SOFTWARE LIVRE: ALFORRIA PARA AS BIBLIOTECAS
O software livre tem conquistado significativo espaço no mercado das tecnologias de informação, merecendo atenção em diversos países. No Brasil, o setor público, nos últimos anos, intensifica ações para o uso desses programas. O governo brasileiro percebeu que é uma alternativa não só econômica, mas modificadora na forma de gasto financeiro ao evitar a transferência dos recursos para o exterior por meio do pagamento de royalties.
A adoção do software livre, pelo poder público, envolve uma disputa de "interesses econômicos". O mercado brasileiro de tecnologia de informação - TI não é nada desprezível. Movimenta em torno de US$10 bilhões de dólares, dos quais US$ 2 bilhões são referentes à software para infra-estrutura e desenvolvimento de aplicações, segundo dados da Computer Associates (CA).
Mercado de Automação de Bibliotecas
A automação de bibliotecas e congêneres não ocupa fatia preponderante no mercado de TI, mas também não é área inexplorada. Embora não haja dados conclusivos do setor, a simples observação de produtos e serviços oferecidos, indica o grande interesse comercial despertado.
Apesar do mercado potencial, na área biblioteconômica é flagrante o desnível tecnológico. Enquanto inúmeras bibliotecas (universitárias e especializadas) e algumas poucas bibliotecas públicas e escolares adotam complexos sistemas integrados de gestão de seus processos, muitas outras se encontram na idade da ficha lascada ou, quando muito, utilizando sucateados recursos computacionais.
Comentário à parte, há necessidade do poder público e privado criarem ações consistentes para área das bibliotecas públicas e escolares, evitando discrepâncias de realidades entre ambientes de informação em pleno século 21. O século das redes digitais e da interoperabilidade de sistemas. O século da inclusão digital e dos programas de incentivo a leitura. O século, ainda, da ausência de programas que promovam a inclusão digital e social de muitas bibliotecas espalhadas nos grotões do país (desculpem o tom panfletário do parágrafo).
O Conceito do Software Livre
O conceito não é novo, surge em 1983, criado por Richard Stallman, da Free Sotware Foundation (http://www.fsf.org/). O termo software livre não é sinônimo de gratuidade, mas de liberdade. Liberdade para os usuários copiarem, executarem, estudarem e modificarem os programas numa espiral ascendente de inovações tecnológicas, baseada na cooperação e na livre circulação de conhecimento técnico.
É uma mudança radical no desenvolvimento de sistemas, ao contrário dos softwares comerciais cuja cópia, execução ou modificação é proibida sem a prévia autorização do fabricante que detém os direitos autorais do produto.
A alternativa do software livre assume enorme importância, tornando-se atualmente crucial para o próprio desenvolvimento da Internet.
Apesar da liberdade de uso, o conceito não restringe a obtenção de lucro no desenvolvimento de sistema. Assim, há acordos de licenciamento na distribuição deste modelo de software e o mais conhecido e adotado é o GNU - General Public Licence. Informações sobre o assunto podem ser buscadas na URL http://www.opensource.org.
É importante para os gestores de bibliotecas, que tencionem desenvolver seus próprios sistemas ou que desejem se informar dos recursos existentes, conhecer um pouco mais sobre o tema.
O modelo de disseminação desse tipo de software é muito similar aos valores criados pelas bibliotecas responsáveis pelo desenvolvimento e difusão do uso do formato MARC para compartilhamento de registros bibliográficos.
Recursos para bibliotecas
No site do Open Source Systems for Libraries (http://www.oss4lib.org), opção projects, há um compêndio mantido por Dan Chudnov sobre softwares de código aberto para uso bibliotecário. Apresenta informações sobre diversos projetos envolvendo desde sistemas para entrega on-line de documentos utilizando o programa Ariel; servidores para protocolo Z39.50; programas para manipulação de registros MARC; aos sistemas integrados para biblioteca como o Koha ou o brasileiro GNUTECA (http://gnuteca.codigolivre.org.br/).
Na medida em que o software livre ganha espaços no ambiente biblioteconômico, diversas organizações profissionais surgem ou constituem seus grupos de interesse no assunto. É o caso da Library and Information Technology Association - LITA e o Open Source Systems Interest Group. No Brasil, já há grupos de interesse no tema como o próprio GNUTECA e os diversos grupos de usuários de microisis.
Infra-estrutura de hardware requerida nas bibliotecas
Como exemplos de sucesso de software livre, fora do ambiente biblioteca, temos o sistema operacional Linux, principal alternativa ao Windows, com alto grau de estabilidade e baixo requisito de máquina. Ademais, o preço dos softwares é impagável, exemplificando, o Windows + Office hoje é mais caro que uma simples configuração de computador. Instituições como escolas, centros comunitários etc., estão adotando a alternativa do software livre como o Linux e, assim, poder dobrar o número de máquinas.
As bibliotecas também podem adotar essa mesma solução. Em termos de hardware, bibliotecas detentoras de equipamentos com configurações obsoletas do tipo: 100 - 133 MHz (Pentium ou similares), 32 MB de RAM e disco rígido de 2 - 10 GB, com placas de rede podem adentrar ao uso do software livre. Dependendo da complexidade das necessidades da biblioteca é importante um planejamento sobre a infra-estrutura de hardware. Entretanto, o software livre pode ser uma sobrevida aos equipamentos obsoletos.
Pode também, ser uma alternativa tecnológica que devidamente configurada às necessidades, contribui na inovação dos serviços informativos de maneira consistente e em conformidade com parâmetros biblioteconômicos.
O software livre embora seja uma alternativa ao mercado comercial, não é sinônimo de facilidade ou de gratuidade, mas de liberdade de uso. Certamente, há um custo financeiro envolvido que pode ser mais baixo ao exigido por um produto comercial. A maior dificuldade enfrentada pelas bibliotecas é a mudança cultural. Migrar do ambiente Windows para ambientes não tão gráficos ou intuitivos como o Linux pode ser um grande desafio. O software livre requer investimento de tempo e treinamento no domínio das operações dos seus sistemas. Porém, mesmo no ambiente Windows esses investimentos se fazem necessários.
Uma tendência na área da Biblioteconomia é o aparecimento crescente de bibliotecários com habilidade em programação e desenvolvimento de sistemas. Alguns já trabalhando com software livre, na criação e/ou aprimoramento de produtos específicos para bibliotecas, fato que aos poucos suavizam a adesão ao novo cenário tecnológico.
Outro aspecto é a necessidade dos gestores de biblioteca estarem plenamente consciente ao adotar o software livre. Um pacote comercial ocupa menos tempo de avaliação e teste, bastando ajustar a biblioteca. Um software livre, da mesma forma, deve ser avaliado e experimentado, mas não necessariamente precisa se ajustar a ele. Ë possível adapta-lo. É, também, uma alternativa para a biblioteca que vá desenvolver sua própria solução a partir do nada.
Porém, independente de qualquer outro questionamento sobre software livre ou comercial é sempre recomendável à biblioteca não perder o foco do planejamento. Assim, é preciso avaliar os gastos para manter em funcionamento um sistema de computador, desde a compra à instalação, atualização e a manutenção. Informações importantes para entender os custos envolvidos na aquisição da tecnologia, principalmente, porque a biblioteca terá que administrar um ambiente informatizado. O bibliotecário, enquanto gestor, precisa ter em mente que a tecnologia não pode ser analisada como despesa, mas como investimento de retorno positivo ao longo do tempo.