LITERATURA INFANTOJUVENIL


ADONIRAN PARA CRIANÇAS

Ao fazer um trabalho para uma disciplina que estou cursando na Universidade Estadual de Londrina, optei em pesquisar a linguagem utilizada por Adoniran Barbosa em suas composições.

Já sabia muito a respeito dessa importante personalidade brasileira, mas me deparei com um livro muito especial. Seu título é: "Adoniran: uma biografia" e foi escrito pelo jovem jornalista - Celso de Campos Júnior, publicado pela Editora Globo. Fiquei impressionada com o nível da pesquisa, e "alucinada" com a riqueza de detalhes. Detalhes que uma fã sempre gosta de saber.

Nesse momento acabei indagando: será que existe um livro que apresenta Adoniran Barbosa para as crianças? Ansiosa, logo respondi: tem que ter. As crianças merecem ter contato com a biografia dele. Assim, comecei a busca e localizei na Coleção Mestres da Música no Brasil um livro escrito por Juliana Lins e André Diniz para a Editora Moderna.

E como diria meu sobrinho de quase 3 anos:

- Muito bom, titia! Muito bom!

Em linguagem acessível e ilustrado com fotografias de São Paulo e do compositor, a criança é levada a uma viagem aos tempos em que Adoniran viveu.

Na folha de rosto desse livro infantil, os autores incluíram a seguinte observação: "uma história para os avós contarem e cantarem para os netos". Isso porque, além da biografia, há também alguns trechos de músicas de Adoniran.

E só para você ficar com "água na boca", estou trazendo uns pedaços dos dois livros, para, quem sabe, você ler em companhia de seus filhos, netos, sobrinhos, amigos...

Ele nasce João Rubinato e se transforma, por opção, em Adoniran Barbosa, pois considerava que seu nome era "simplório e macarronado". Explica que Barbosa vem de Luiz Barbosa, cantor famoso de sua época e Adoniran era um amigo querido, companheiro de boemia (GOMES, 1987, p.18). Adoniran é o sétimo filho de um casal de imigrantes italianos, oriundos de Cavarzere (Veneza), nasceu em Valinhos, próximo de Campinas, interior de São Paulo, em 1912, numa família economicamente desfavorecida, portanto, começou a trabalhar ainda criança, aos 10 anos. Como a lei da época proibia que a criança trabalhasse antes dos 12 anos, eles falsificaram a sua certidão de nascimento indicando que seu nascimento ocorreu em 1910.

Entre as profissões que exerceu estão a de: garagista, pintor de paredes, entregador de marmitas, encanador, mascate vendedor de meias, operário de fábrica de tecidos, vendedor de tecidos, vendedor dos cosméticos Helena Rubstein, metalúrgico, esmerilhador de ferro fundido, garçom, despachante, varredor de tecelagem, balconista, guardador de filas, mecânico e conferente de mercadorias. Sobre seus empregos, Adoniran comentava que não conseguia permanecer nos mesmos por muito tempo, pois os seus chefes se irritavam com seus batuques ao compor os sambas.

Assim, "aos 16 anos João já tinha feito uma porção de coisas e comido muito pastel com os trocados que ganhava" (LINS; DINIZ, 2003, p.9). Em 1932, precisando ajudar na manutenção da casa em busca de um emprego mais lucrativo, muda-se para a capital, deixando para trás sua família.

E é em São Paulo que ele descobre as profissões que ele irá exercer grande parte da sua vida: radioator e compositor. O teatro fascinava Adoniran Barbosa desde a adolescência, "Naturalmente que gostava de música, mas compor para ele vinha em segundo plano, pois o seu principal objetivo era o teatro [...]. Sonhava em ser um grande ator, e até o fim de sua vida ele reclamava ter sido rejeitado nos meios teatrais" (GOMES, 1987, p.9).

Desencantado com o teatro, decide pela carreira de cantor radiofônico. Carreira, esta, que exerceu a "duras penas". Sua primeira experiência foi num Programa de Calouros, foi reprovado várias vezes, mas insistiu muito até ser contratado.

Muitos anos se passaram, muitas dificuldades surgiram na vida de Adoniran Barbosa, e, apenas em 1936 grava seu primeiro disco, cujo título é:

[...] Colúmbia no 8.171, lançado no mês de janeiro, com orquestração e regência de seus parceiros, maestro José Nicolini. Gravou cantando um samba cujo título era "Agora pode chorar", composição fraca, ainda no estilo tradicional e que, por não acrescentar nada que merecesse aparecer, ninguém tomou conhecimento, tornando-se mais uma tentativa frustrada para Adoniran. Esse disco, entretanto, serve para comprovar que a voz dele era boa e nada se assemelhava a rouquidão dos últimos tempos (GOMES, 1987, p.14).

Ele foi casado duas vezes, primeiramente com Olga Rodrigues, seu casamento durou aproximadamente 16 meses e dessa união nasceu apenas uma filha, Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, que lhe deu um neto chamado Alfredo. Com a separação a convivência com a filha no início foi mais intensa, mas com o passar do tempo ele transferiu essa responsabilidade para sua irmã e para o seu cunhado. Apesar de, também, não ter convivido com o seu neto cotidianamente, Adoniran refere-se a ele da seguinte forma: meu neto é lindinho. Está uma beleza. É o fim do mundo. Já toca violão. Já fala errado..." (CAMPOS JUNIOR, 2004, p.546).

"Adoniran gostava de brincar e era extremamente habilidoso com as mãos. Tanto que, mais velho, com mais tempo para ficar em casa, construiu uma oficina nos fundos de casa e deu para inventar brinquedos. Fazia trens, carros, carroças, bicicletas, tobogans com criancinhas escorregando, carrocel, usando tudo que caía em suas mãos" (LINS; DINIZ, 2003, p. 30).

Porém em 1982, no último ano de vida, Adoniran Barbosa sofreu com um enfisema pulmonar, que se agravava com o cigarro e a cachaça ou uísque. Passou a se utilizar de nebulizador e bomba de oxigênio todos os dias. Em conseqüência disso, alterou seus hábitos noturnos. Não perdera a calma costumeira (era agitado, mas não violento) e nem o bom-humor, afirmando que agora só realizava "boêmia vespertina". Na última vez que esteve internado no Hospital São Luiz, segundo Campos Junior (2004, p.546) "[...] o artista procurava não demostrar abatimento. Espirituoso, distribuiu apelidos aos aparelhos hospitalares: os tambores de oxigênio eram Mercedão e Mercedinho, o compressor era Romisetta, a máscara de oxigênio a Corneta e o urinol o terrível Canhão de Navarone".

Fazendo referência as músicas do compositor e para finalizar o livro infantil - Adoniran Barbosa de Juliana Lins e André Diniz, os autores sugerem: "embarque nesse trem que sai agora às onze horas e vá ouvir o samba do Arnesto numa das milhares de malocas espalhadas por aí. Mas cuidado! Muito cuidado para não ser frechado para todo o sempre pela música de Adoniran Barbosa".

Embarque você também !!!

Sugestão de Leitura:

CAMPOS JUNIOR, Celso de. Adoniran Barbosa: uma biografia. São Paulo: Globo, 2004.

GOMES, Bruno. Adoniran, um sambista diferente. 2.ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1997.

LINS, Juliana; DINIZ, André. Adoniran Barbosa. São Paulo: Moderna, 2003.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.