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TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O TRABALHO BIBLIOTECÁRIO EM 2020

Todo início de um novo ano previsões são estabelecidas para todos os setores da atividade humana. Prever o futuro ou os acontecimentos que direcionam o nosso destino é algo tão antigo como a própria civilização humana. Na atualidade, dentre tantos fatores que influenciam a vida humana, certamente o fator das tecnologias é um dos mais marcantes. Até por alterar costumes, processos e habilidades humanas.

Neste sentido, aborda-se sobre algumas das tendências estratégicas de tecnologia previstas para o ano de 2020 pelo Gartner Inc., durante o Gartner IT Symposium / Xpo, realizado entre os dias 20 a 24 de outubro de 2019, em Orlando (EUA).

O evento, de importância mundial, reune uma comunidade global de CIOs (Chief Information Officer) e executivos seniores de tecnologia da informação (TI), para tratar das ferramentas e estratégias que irão ajudá-los a liderar a próxima geração de TI e a alcançar resultados em seus modelos de negócios. 

Entende-se como uma tendência estratégica de tecnologia, aquela com potencial disruptivo e que emerge de um estágio inicial não latente para um nível de impacto e uso amplo, com alto grau de volatilidade e perspectiva de atingir pontos críticos em cinco anos.

Servem de parâmetros para organizar e avaliar os espaços inteligentes centrados nas pessoas. Em um mundo tecnológico, torna-se importante tomar as pessoas como centro da estratégia tecnológica, para identificar influência sobre: clientes, funcionários, parceiros de negócios, sociedade ou outros grupos-chave. 

Saliente-se que “espaço inteligente” engloba o ambiente físico no qual pessoas e sistemas habilitados para tecnologia interagem em ecossistemas cada vez mais abertos, conectados, coordenados e inteligentes. Nesse espaço, vários elementos (pessoas, processos, serviços e coisas) estão reunidos para criar uma experiência mais imersiva, interativa e automatizada. Bibliotecas, portanto, podem ser exemplos potenciais de espaços inteligentes.

Certamente, por analogia, pode-se entender que todas as ações da biblioteca devem estar baseadas na forma como afeta seus usuários ou público e sua equipe, direta ou indiretamente. Uma abordagem do serviço de informação centrado no usuário e suportado por dispositivos tecnológicos.

O Gartner elencou 10 tendências tecnológicas estratégicas para 2020, a saber:

  1. Hyperautomation
  2. Multiexperience
  3. Democratization of Expertise
  4. Human Augmentation
  5. Transparency and Traceability
  6. The Empowered Edge
  7. Distributed Cloud
  8. Autonomous Things
  9. Practical Blockchain
  10. AI Security

Hyperautomation

É a combinação do machine learning (ML), software e ferramentas de automação para executar informações sobre procedimentos e operações de determinado trabalho (descobrir, analisar, projetar, automatizar, medir, monitorar e reavaliar). Compreende uma variedade de mecanismos de automação, como eles se relacionam e como podem ser combinados e coordenados.

Essa tendência da hiper automação foi iniciada com a automação de processos robóticos (robotic process automation – RPA). No entanto, RPA por si só não é hiper automação, já que esta requer uma combinação de ferramentas para ajudar a suportar a replicação de partes ou funções de uma atividade onde o humano está envolvido. 

Multiexperience 

Até 2028, a experiência do usuário passará por mudanças significativas na maneira como os usuários percebem e interagem com o mundo digital. As plataformas de conversação ou comunicação têm mudado a maneira como as pessoas interagem com o mundo digital. Realidade virtual (virtual reality – VR), realidade aumentada (augmented reality – AR) e realidade mista (mixed reality – MR) mudam a maneira de percebermos o ambiente digital. Essa mudança combinada nos modelos de percepção e interação leva à futura experiência multissensorial e multimodal.

O que se desenvolve a possibilidade de interpretação da intenção ou desejo do usuário passará também para a máquina. Portanto, a máquina embutida de algoritmos de inteligência artificial, terá aprimorada a capacidade de se comunicar com os usuários através dos muitos sentidos humanos e desta forma propiciar um ambiente enriquecedor no fornecimento de informações.

Em suma, a multiexperiência substitui pessoas com conhecimento de tecnologia por tecnologia orientada pelo conhecimento das pessoas.

Democratization of Expertise

É o foco na democratização tecnológica que possibilita o acesso aos conhecimentos técnicos (por exemplo, ML, desenvolvimento de aplicativos) ou na gestão de modelos de negócios (por exemplo, processo de vendas, análise econômica) por meio de uma experiência simplificada e dispensada de treinamento extensivo e dispendioso. 

Contribui para o surgimento de novos conceitos como: citizen access, literalmente, “acesso do cidadão” (por exemplo, citizen data scientists, citizen integrators), e que atualmente atrai a atenção de cientistas sociais, filósofos da ciência e de profissionais da informação. Advoga-se, em um mundo tecnológico, pela “democratização das experiências” que se torna a ordem do dia na legitimação do financiamento da pesquisa. O novo significado de 'participação' e 'prestação de contas' motivou estudiosos a repensar a interface ciência-política e sondar questões como o que há de novo na organização da experiência científica e na tomada de decisões políticas; de como o conhecimento certificado pode ser útil na formulação política e para sociedade em geral. 

Para o Gartner, quatro aspectos principais da tendência de democratização devem se sobressair, as análises de dados (recursos direcionados aos cientistas de dados e que se expandem para atingir a comunidade de desenvolvedores); a democratização do desenvolvimento, envolvendo ferramentas de IA (inteligência artificial) para aplicativos customizados; a democratização do design (expandindo os fenômenos do low-code e no-code, no desenvolvimento de aplicativos gerados para capacitar o cidadão-desenvolvedor de sistemas); e democratização do conhecimento (profissionais que não são de TI obtendo acesso a ferramentas e sistemas especializados que os capacitam a explorar e aplicar habilidades especializadas além de seus próprios conhecimentos e treinamento).

O Citzen Data Scientists, caracterizam-se como os profissionais que mesmo não tendo habilidades de um cientista de dados, são responsáveis por criar modelos baseados em análises de dados (capacidades preditivas e prescritivas), impulsionando o mercado de dados.

Neste tópico, bibliotecários que não são especialistas em programação devem atuar, desenvolvendo recursos orientado ao tratamento, preservação e disseminação da informação ou dados estruturados; tudo isso orientado pela inteligência artificial.

Human Augmentation 

Explora as possibilidades tecnológicas no fornecimento de melhorias cognitivas e físicas integradas a vivência humana. Melhoria da capacidade humana por meio da implantação ou hospedagem de dispositivos de tecnologia no corpo humano ou como dispositivo vestível. O aumento cognitivo pode ocorrer através do acesso a informações e da exploração de aplicativos em sistemas computacionais tradicionais e na interface multiexperience emergente em espaços inteligentes. Considera-se que, nos próximos 10 anos, o “aprimoramento” humano (físico e cognitivo) se tornará predominante na busca das pessoas. Isso criará o efeito de "consumerization", ou seja, a influência que as tecnologias originadas pelo consumidor ou no espaço do consumidor, podem ter nas empresas. Assim, os funcionários buscam explorar seus aprimoramentos pessoais, até para melhorar o ambiente do local de trabalho.

Neste aspecto, a adesão a óculos, aparelhos auditivos e próteses na atualidade evoluem para os implantes cocleares e/ou vestíveis; recursos que entre outras coisas podem contribuir para aumentar o armazenamento de memória ou ampliar a capacidade física ou criar capacidade sobre-humana, o que gera visões de ciborgue futurista.

Transparency and Traceability

Os consumidores estão conscientes do valor de suas informações pessoais e cobram controle. As organizações sabem do risco crescente de proteger e gerenciar dados pessoais, e os governos têm implementado regulação rigorosa para garantir o respeito aos dados pessoais. Transparência e rastreabilidade são elementos críticos no suporte às necessidades de ética e privacidade dos dados pessoais no ambiente digital.

Os termos referem-se a uma variedade de tecnologias, atitudes, ações e práticas projetadas para atender aos requisitos regulatórios, preservar uma abordagem ética para o uso da inteligência artificial e outras tecnologias avançadas empregadas pelas organizações. À medida que as organizações desenvolvem práticas de transparência e rastreabilidade, devem se concentrar em três áreas: (1) AI e ML; (2) propriedade e controle dos dados pessoais privados; e (3) design alinhado com a ética.

The Empowered Edge 

Edge Computing, em tradução livre, pode ser denominada de “computação de borda” ou “computação na extremidade”. Basicamente, é um sistema formado por pequenos data centers estabelecidos na borda da rede, de maneira a permitir o processamento dos dados e a coleta e entrega de conteúdo sejam colocados mais próximas das fontes, repositórios e consumidores dessas informações. É considerada como evolução natural do modelo de Cloud Computing (computação em nuvem), que permite processar dados de forma rápida, sem dificuldades e com maior autonomia.

O maior foco nesta computação decorre da necessidade de sistemas de IoT (Internet das Coisas) que forneçam recursos para diversos setores econômicos, por ser capacitada com recursos de computação cada vez mais sofisticados e de capacidade de armazenamento de dados. Dispositivos de ponta complexos, incluindo robôs, drones, veículos autônomos e sistemas operacionais, acelerarão essa mudança de empoderamento do edge computing.

Distributed Cloud

Nuvem distribuída é a distribuição de serviços de nuvem pública para locais fora dos datacenters, enquanto o provedor responsável pela nuvem de origem assume responsabilidade pela operação, governança, atualizações e evolução dos serviços. Isso representa uma mudança do modelo centralizado existente na maioria dos serviços públicos de nuvem; promoverá nova fase na computação em nuvem. 

Autonomous Things

Coisas autônomas são dispositivos físicos que usam inteligência artificial para automatizar funções anteriormente realizadas por pessoas. Exemplos de coisas autônomas: robôs, drones e outros equipamentos autônomos (carros, barcos etc.). A automatização vai além dos modelos rígidos de programação, explora a IA para oferecer comportamentos que interagem de forma natural com o ambiente e as pessoas. Com a melhora contínua da capacidade tecnológica, o aprimoramento da regulamentação e da aceitação social, dispositivos autônomos serão cada vez mais implantados em espaços públicos não controlados.

A expectativa é de mudança de coisas inteligentes independentes para um enxame de coisas inteligentes colaborativas, onde os diversos dispositivos operem em conjunto, independentemente das pessoas ou das contribuições humanas. Por exemplo, no serviço de circulação da biblioteca pública, a solução mais eficaz pode ser usar um “ônibus biblioteca” (veículo autônomo) para levar acervos bibliográficos para regiões urbanas mais periféricas. Robôs a bordo do veículo podem complementar o serviço de empréstimo.

Practical Blockchain

Blockchain é um recurso com potencial remodelador de setores ou serviços; proporciona transparência e segurança na troca de informações entre ecossistemas de negócios. As transações podem ser rastreadas até sua origem, reduzindo as possibilidades de falsificação de informações ou de produtos. O rastreamento também tem valor em outras áreas, como rastrear alimentos em uma cadeia de suprimentos para identificar mais facilmente a origem da contaminação ou rastrear peças individuais para ajudar na recuperação de produtos. Outra área em que o recurso tem potencial é o de gerenciamento de identidades. Contratos inteligentes podem ser programados no blockchain, onde os eventos podem desencadear ações; por exemplo, o pagamento é liberado quando as mercadorias são recebidas. 

AI Security

Inteligência artificial e machine learning continuarão sendo aplicadas na tomada de decisão humana em um amplo conjunto de casos. Embora isso gere oportunidades para permitir a expansão da hyperautomation e Autonomous Things na transformação dos modelos de negócios; cria desafios de segurança e de risco, pelo aumento de possíveis pontos de ataque cibernético, em especial, com IoT, computação em nuvem, microsserviços e sistemas altamente conectados em espaços inteligentes. Responsáveis por sistemas de segurança e risco devem se concentrar em três áreas principais: 1) proteger os sistemas de inteligência artificial; 2) alavancar a inteligência artificial para aprimorar a defesa de segurança; e 3) antecipar ao uso nefasto da inteligência artificial pelos hackers. 

As tendências listadas indicam como as tecnologias impactaram as pessoas e seus ambientes. Bibliotecários, portanto, estão inseridos nos indicadores dos impactados pelas inovações tecnológicas; bem como os espaços informacionais que habitam.

Indicação de leitura:

Gartner Identifies the Top 10 Strategic Technology Trends for 2020. Gartner.com. Disponível em: https://gtnr.it/2SjJrAa 


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.