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O CAFÉ E O CONHECIMENTO

O “Café Filosófico” é uma iniciativa promovida pela CPFL Energia em algumas cidades de sua área de atuação: Bauru, Caxias do Sul, Campinas, Ribeirão Preto, Santos, Sorocaba e São Paulo. Nas cidades de Campinas e São Paulo, os debates são gravados e exibidos pela TV Cultura e TVs educativas de todo o Brasil. Esse evento serve como ponto de encontro entre intelectuais e cientistas com públicos diversos, uma reunião de pessoas para apresentação de visões de mundo, temas conflitantes da contemporaneidade. A iniciativa se configura como uma oportunidade de conhecer questões da filosofia, psicanálise, sociologia, física e matemática, dentre outras áreas do saber. Assistir as palestras de intelectuais renomados das mais diversas áreas do conhecimento é um convite ao questionamento de idéias que povoam nossas mentes, e que encontra nesse espaço um momento de reflexão necessária. Não é em vão que esse projeto cultural ganhou o nome de “Café Filosófico”. Existem relações entre o café, planta nativa da Etiópia, e o conhecimento, processo construído na sistematização e representação do real pelo pensamento. Quando assistimos o Café Filosófico, chega a parecer, por um instante, que voltamos ao Iluminismo, época de grandes idéias, intensos debates de grupos criativos que encontravam lugar propício ao conhecimento nos salões e cafés europeus. A partir do Século XVII, o historiador Peter Burke conta que a comunicação de idéias descobriu um ambiente original para discussões regulares nos cafés, que desempenharam importante papel nesse período. Na Inglaterra era possível assistir desde palestras sobre matemática até declamação de poesia nos cafés londrinos. Em Paris, o Café Procope era ponto de encontro de Diderot e seus amigos. Diderot, um dos autores da famosa “Encyclopédie”, publicada no século XVIII, realizou projeto grandioso não só no tamanho (28 volumes), mas também no objetivo de ampliar o acesso ao conhecimento humano, que reunia milhares de verbetes, expressando um ideal de conhecimento universal. Alguns cafés dessa época eram decorados com livros.  Para estimular a presença das pessoas, os donos de casas de café compravam jornais e revistas, o que encorajava a discussão das idéias e das notícias. O café era bebida sóbria, própria para o debate racional, que se travava a época, para a ciência e a política. Os cafés eram importante centro de informação na Era moderna, onde convergiam notícias sobre chegadas de navios, comércio e negócios, além de informações sobre pessoas. Impulsionou, no século XVIII, a criação de jornais como espaço de debate para seus frequentadores. Já no Século XX, os cafés parisienses foram palco para a produção de escritores, artistas e intelectuais renomados, como Hemingway, Picasso, Sartre e muitos outros, que buscavam o ambiente aconchegante e favorável ao encontro (além de barato), para compor ou inspirar suas obras. Na virada do século, no The Elephant House Coffee em Edimburgo, Escócia, nasceram páginas da saga de Hary Potter, pelas mãos de J.K. Rowling. Atualmente, muitas pessoas se dirigem aos cafés com seus notebooks, a procura de um espaço não só para passar o tempo e tomar um café, mas para se conectar a internet através da rede sem fio oferecida nesses locais, o que permite que o ambiente seja utilizado tanto para lazer quanto para trabalho e pesquisas. Assim, da Era Moderna à Era da Informação, a relação entre café e conhecimento nunca mais saiu de moda.

Tamara Brandão Guaraldo é jornalista e doutoranda em Ciência da Informação/Unesp-Marília.

Autor: Tamara Brandão Guaraldo

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Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.