É comum me perguntarem em festas, feiras literárias e entrevistas como a literatura entrou na minha vida, e muitas vezes, percebo o matiz da inadequação, como se perguntassem: “Como você, que não foi talhada para fazer literatura, chegou até ela?”. Mas não me furto de responder, responderei aqui.

A arte entrou na minha vida pelas canções que minha mãe e meu pai cantavam em casa, assim como pelo rádio. Eu ouvi muito rádio. [...]

Os sambas-enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro são outra referência artística importante da minha infância. [...]

Era hábito de meus pais, desde que nós éramos muito novos, contar as histórias que haviam vivenciado, as experiências familiares. Não se tratava de histórias inventadas para nos distrair, eram as histórias da vida deles, repetidas ao longo dos anos na intenção de nos contar quem eles eram, de onde vieram, e de, assim, nos educar. Isso nos formou, a mim e a meus irmãos. [...]

Aprender a ler palavras aos seis anos foi uma festa. Ler passou a ser algo tão divertido quanto qualquer brincadeira de criança. Até os nove anos eu lia qualquer livro infantil que caísse em minhas mãos e muita história em quadrinhos. Aos dez, na quinta série (atual sexto ano) migrei para uma escola pública nova e bem equipada, que tinha biblioteca, da qual me tornei frequentadora assídua. A regra de empréstimo permitia dois livros por vez, mas eu pegava quantos quisesse, pois lia tudo e ainda comentava sobre as leituras com as bibliotecárias. Imagino que tenha sido uma forma encontrada por elas para me incentivarem como leitora.

Dos dez aos catorze anos, da quinta à oitava série, foi meu período mais intenso de leituras. (p.115-120)