TEXTOS GERAIS


  • Textos Gerais

POR QUE AS LIVRARIAS MORREM?

Mais uma notícia trágica: a Livraria Nobel do Pátio Brasil vai fechar e todo seu estoque, cerca de 20.000 livros, serão vendidos com grandes descontos. Nos últimos anos nos acostumamos a ouvir essas notícias e devemos expressar a nossa indignação, pois já perdemos dezenas de livrarias como a Casa do Livro, a Brasiliense, e outras.

 

Para um país como o Brasil, que tem número reduzido de livrarias uma nova tragédia anunciada significa que o prejuízo não é só do proprietário da livraria.

 

Todos estão perdendo, pois quando morre uma livraria, morre também a grande esperança brasileira de um dia ter público leitor.

 

Morre o acesso à informação, pois a livraria demarca um ponto cultural de acesso à informação e ao conhecimento.

 

Morre a nossa expectativa de independência e soberania. No ano passado produzimos poucas patentes e, na verdade, os grandes produtores de patentes são os países que valorizam o livro, a leitura e conseqüentemente as livrarias.

 

Morre a esperança do ensino com qualidade, pois somente o livro pode melhorar a qualidade do ensino no Brasil e acabar definitivamente com a pesquisa baseada na cópia ou com control c e control v.

 

Morre a esperança de um dia acabarmos com as desigualdades sociais, pois o livro é o instrumento democrático que pode incluir grande massa da população brasileira na sociedade da informação.

 

Morre o sonho de acabarmos com a violência, pois os lugares onde há livraria e leitura são lugares onde não há violência e a insegurança.

 

Morre a esperança de reduzirmos o desemprego, pois jamais se ouviu falar que um leitor crítico está desempregado.

 

Morre o processo de construção da cidadania, pois hoje o que assegura a noção dos direitos e deveres na sociedade é a compreensão e o livre acesso à informação.

 

Morre a esperança de milhares de autores de receberem os direitos autorais.

 

Morre a esperança de acabarmos com a desinformação e principalmente com a manipulação da informação na formação da opinião pública, tão freqüente no período eleitoral.

 

Morre a esperança da melhoria da produção científica brasileira.

 

Morre um pouco da memória brasileira, já tão dispersa e tão concentrada na Library of Congress em Washington –DC.

 

À medida que as livrarias morrem, adquirem sobrevida os inimigos da democracia, os defensores do livro didático único e os defensores do livro como instrumento de colonialismo cultural.

 

Na extraordinária obra A Biblioteca de Babel, falando de livros e bibliotecas, Jorge Luis Borges afirma o seguinte: “Suspeito que a espécie humana, a única, será extinta e que a biblioteca permanecerá: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorrompível, secreta”.

 

Umberto Eco afirma que a situação conhecida como cultura de massas tem lugar no momento histórico em que as massas entram como protagonistas na vida social e participam das questões públicas. Efetivamente, podemos dizer que grande parte da população da América Latina não participa das questões públicas por desconhecimento dos seus direitos e deveres na sociedade. Para participar é necessário estar informado. A carência de livrarias, bibliotecas públicas, o analfabetismo e a desnutrição infantil impedem que estas populações tenham acesso à informação.

 

Emir José Suaiden - Professor Titular da UnB - emir@unb.br

 

(Autorizado pelo autor em 02/05/2006)
Autor: Emir José Suaiden

   365 Leituras


author image
Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.