GERAL


BIBLIOTECAS NO METRÔ EMPRESTAM, GRATUITAMENTE, LIVROS POR ATÉ 10 DIAS


Patrícia Villalba

 

As três horas diárias que o agente de segurança Wellington Ramos da Silva gasta para ir e vir de casa, em Suzano, ao trabalho, na Vila Mariana, são suficientes para que o Dr. Hannibal Lecter mate uma meia dúzia de desavisados em Florença. O cruel personagem de Thomas Harris será sua companhia pelos próximos dez dias, quando ele, se tiver sorte, será transportado para o mundo incrível de Sidney Sheldon, seu autor preferido. Tem sido assim, um livro depois do outro desde que o segurança de 25 anos se tornou sócio da biblioteca Embarque na Leitura, instalada na Estação Paraíso do Metrô.

Wellington diz que - "francamente" - sempre foi um leitor preguiçoso. Mas mudou, depois de namorar uma leitora voraz e catequista, que jogou em suas mãos O Outro Lado da Meia-Noite - ah, Sheldon. "O namoro acabou, mas ficou o hábito e o gosto pelos livros de Sidney Sheldon", atesta. "Pena que sejam tão concorridos."

O serviço é gratuito e o prazo é generoso - dez dias -, mas o usuário só pode levar um exemplar por vez. Para ser sócio, é preciso levar uma foto 3X4, um comprovante de residência, além de cópias e os originais do RG e CPF. A carteirinha fica pronta em cinco dias, e só com ela é possível retirar o livro.

Os livros são dispostos em vitrines, como numa livraria, de maneira bastante atraente. Foi lá que a professora de dança Renata Costa, de 31 anos, viu O Historiador, de Elizabeth Kostova. Levou para casa. "Gosto muito de ler, mas não posso comprar um livro por mês. Antes, eu alugava. Agora, não gasto nada para ler", diz, entusiasmada com o serviço.

Ontem, ainda eram 14 horas, longe do horário de pico, mas os vagões para Itaquera estavam lotados. De pé, mal se equilibrando, a auxiliar Sheila Cristina Marques, de 38 anos, viajava longe, nas imagens de areia branca e mar azul da Costa do Sauípe. Ela vai e vem todos os dias, da estação Arthur Alvim para a Clínicas. Lê sentada, se der, mas já acostumou até a ler em pé. "Peguei agora na biblioteca, para um trabalho de escolha do meu filho", conta.

Outro que lê em pé é o metroviário Davi Roberto Pereira, que já abre o livro antes de entrar no vagão. Vai de Itaquera a Tiradentes, percurso de 40 minutos. "Só leio no metrô mesmo, porque em casa os filhos não deixam", explica.

O projeto Embarque na Leitura é uma boa idéia que faz tremendo sucesso entre os usuários. Implantado com patrocínio da Usiminas e da Eletropaulo, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, está em expansão - ontem foi inaugurada uma nova unidade na Estação Luz. Em quase dois anos de funcionamento, as duas já existentes - Tatuapé e Paraíso - contam com 15 mil sócios, que fizeram 72 mil empréstimos, uma média de 133 livros por dia. "Nossa meta sempre foi ter dez unidades, mas agora com essa nova biblioteca na Luz, teremos uma boa distribuição na rede", explica a chefe do Departamento de Marketing do Metrô, Flávia Cutolo. O custo de implantação de uma biblioteca do projeto é de R$ 400 mil.

 

Campeão de empréstimos já pegou 120 livrosO dentista Alberto Hiroshi Takaynagi, de 64 anos, é o mais assíduo freqüentador da Biblioteca Embarque na Leitura, na Estação Paraíso. Os 2 mil livros que diz ter nas estantes de casa não são mais suficientes e, desde que se associou ao serviço do Metrô, levou outros 120 para casa - é o campeão em retiradas. A grande maioria, romances policiais, com atenção especial também aos best sellers e os romances de aventura. "Tem sido uma oportunidade para conhecer novos autores do gênero policial, porque a crise não está deixando a gente comprar livros novos. Foi lá que eu fui ler Tony Belotto, Tabajara Ruas e Marçal Aquino", conta que, apesar do amor pelos livros, é sócio de uma biblioteca pela primeira vez na vida.

"Eu sempre fui o que se chamava de 'rato de biblioteca', sempre gostei de ler. Mas agora, com a facilidade da biblioteca no Metrô, estou lendo bem mais. Só neste ano, foram mais de 50 livros. Se eu fosse contar isso em reais, ia ficar caro, não acha?", brinca ele, que conta ter lido quase toda a obra de Rubem Fonseca graças à Embarque na Leitura.

Já o escritor campeão na preferência dos sócios das bibliotecas do metrô é Luis Fernando Verissimo - na estação Paraíso, Comédias Para se Ler na Escola é o livro mais retirado; na estação Tatuapé, o posto é de outro livro dele, As Mentiras que os Homens Contam.


Fonte: O Estado de São Paulo – 02/09/2006
Divulgado por Rodney – Enviado para “bibliotecários” em 04/09/2006

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.