GERAL


FALTA LIVRO, SOBRA GENTE


Themys Cabral

 

Déficit de acervo em bibliotecas públicas de Curitiba pode chegar a 7,8 milhões de exemplares, apesar da boa posição nacional da cidade no ranking de instituições

 

Um milhão e duzentos mil livros. Uma montanha de pá­ginas e páginas para serem descobertas, lidas, apreciadas e, o que é melhor, acessível a quem queira. O gigantesco acervo reunido pelas bibliotecas públicas de Curitiba, à primeira vista, poderia impressionar não fosse uma multidão de leitores em potencial maior ainda. A conta é simples: uma cidade com 1,8 milhão de habitantes e 1,2 milhão de exemplares disponíveis – uma média de 0,67 livro per capita.

 

Na cidade com o maior número de bibliotecas públicas per capita do país (uma a cada 26 mil pessoas) e reconhecida nacionalmente por ser uma capital cultural, faltam livros: não existe sequer um exemplar por habitante em unidades públicas – o levantamento feito pela reportagem levou em conta o acervo da Biblioteca Pública do Paraná, 45 Faróis do Saber, 81 bibliotecas escolares abertas à população, 10 bibliotecas mu­­nicipais e duas Casas de Leituras, mantidas pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC).

 

A média de livros por habitante na capital pode ser preocupante, le­vando-se em conta parâmetros internacionais. O estudo Guide­li­­nes for Public Libraries (Orien­­tações para Bibliotecas Públicas), elaborado pela Fe­­deração Internacional das Associações Biblio­tecárias (Ifla, da sigla em inglês) em 2000 e reeditado em 2001, prevê que as bibliotecas públicas ofereçam, no mínimo, de 1,5 a 2,5 livros per capita. De acordo com a pesquisa conduzida pelo britânico Philip Gill, dois livros habitante seria um patamar adequado.

 

Como base na pesquisa da Ifla, para atender adequadamente sua po­­pulação, Curitiba teria de contar com 3,6 milhões de livros em acervo de bi­­bliotecas públicas, o que significa que a cidade, hoje, teria um déficit de 2,4 milhões de exemplares. Para a presidente do Conselho Federal de Bibliote­conomia (CFB), Nêmora Rodrigues, a defasagem, porém, pode ser três vezes maior.

 

De acordo com Nê­­mo­ra, a Ifla busca dar orientações que possam ser aplicadas em qualquer lugar do mundo. Ba­­sean­­do-se em estudos mais recentes e mais próximos, a expectativa para as cidades brasileiras é de atingir médias maiores. O parâmetro utilizado pelo CFB tem sido a As­­sociação de Bibliotecários Ame­ricanos, que prevê que as bibliotecas es­­colares tenham, no mínimo, dez li­­vros por estudante.

 

Readequando o padrão americano, o CFB recomenda que as bibliotecas escolares brasileiras ofereçam, no mínimo, quatro livros por estudante – um projeto de lei que tramita no Congresso Federal pode fazer com que essa média passe a ser obrigatória. Já, para a população em geral, a recomendação do CFB é que as instituições públicas tenham cinco livros por habitante.

 

Na proposta da CFB, o déficit de livros em Curi­tiba chegaria a 7,8 milhões de exemplares. “É um problema grave”, avalia Nê­­mora. “A biblioteca é um serviço público que deve estar preparado para atender as necessidades da população”, critica o an­­tropólogo Felipe Lin­­doso, autor do livro O Bra­­sil pode ser um país de leitores?

 

De acordo com a presidente do CFB, por menor que seja, o uso da biblioteca poderia ajudar a mudar a realidade de um povo. No Brasil, porém, um levantamento do Instituto Pró-Livro mostrou que 73% dos brasileiros não frequentam bi­­bliotecas e, em todo país, existe uma unidade pública a cada 33 mil habitantes apenas – na Argentina, há uma para cada 17 mil pessoas e na França, uma para 2,5 mil.

 

O índice de leitura no Brasil é muito baixo. Enquanto o americano lê, em média, 11 livros por ano, e o francês, 7, o brasileiro tem lê apenas 1,3. Incluídas as obras didáticas e pedagógicas, o número sobe para 4,7.

 

O descaso com a leitura e, de quebra, com o espaço destinado aos livros, pode ter consequências sérias. De acordo com a Ifla, deixa-se de ga­­nhar em educação, informação e desenvolvimento pessoal de jo­­vens e adultos – os principais atributos das bibliotecas, segundo o estudo. “As bi­­bliotecas são importantes instrumentos de cidadania e de desenvolvimento pessoal. Há também consequências econômicas”, ava­­­lia Lindoso. “As pessoas ficam sem capacidade de ir adiante, ter formação mais crítica. Aí reelegem os políticos corruptos e por aí vai”, opina Nêmora.


Fonte: Clique Aqui
Divulgado por Rosalvio Sartortt – Enviado para “bibliotecarios” em 06/12/2009

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.