HISTÓRIAS ESCRITAS


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CACHORRENTO, CACHORREIRO OU CACHORROSO?

O despertador tocou. O menino abriu os olhos, desligou aquela maquininha barulhenta e se virou para o outro lado da cama. O bom é que o menino podia controlar o despertador.

- Sabe quem manda aqui? – perguntou o menino para o despertador.

- Filho, são 6 horas, levanta! – disse a mãe abrindo a porta do quarto e a deixando aberta.

Parecia ao menino que o despertador, com as mãozinhas na cinturam perguntava, meio que rebolando – Quem é que manda aqui, mesmo?

- Mãe, só mais cinco minutos.

- Não, senhor – ele ouviu a voz da mãe lá da sala – Você vai se levantar agora pra cuidar do seu cachorro.

Bufando, falando sozinho, xingando o mundo todo, o menino foi ao banheiro, se vestiu e foi pra cozinha tomar café.

- Antes de tomar café – disse a mãe - você vai pegar o cocô do Peralta.

Bufando mais ainda, ele foi até a parte gramada do quintal, com um saquinho plástico na mão, pegar o cocô que o cachorro havia feito durante a noite.

- Eita animal porquinho... quer dizer, ele não é porco, mas faz porcaria.

No caminho de volta, o Peralta, deitado na sua caminha, se espreguiçando e se ajeitando para voltar a dormir, ficou olhando para o menino. Que inveja; como ele, naquela hora, queria ser um cachorro.

- Mãe, o Peralta é muito porquinho.

- O que ele fez?

- Ele sempre faz cocô.

- Então, se ele é porquinho porque faz cocô, todos nós somos porquinhos também.

Por essa o menino não esperava. A mãe, como sempre, tinha razão.

- Se eu acordasse as 6 e meia, daria tempo para fazer tudo e sair no horário.

- Não dava não – disse a mãe.

- Vamos fazer um teste amanhã?

- Na na ni na não – falou a mãe terminando a conversa. – Quem mandou você pedir pra ter um cachorro? Eu avisei que dava trabalho, mas você não me ouviu e disse que daria conta e cuidaria de tudo.

Meneando a cabeça o menino concordou:

- É duro ser cachorreiro.

- O que você disse? – perguntou a mãe.

- Que é duro ser cachorreiro.

- E o que é cachorreiro?

- É quem tem cachorro.

A mãe, de boca aberta, disse a ele que a palavra estava errada.

- Então é cachorrento?

- Também não.

- Cachorroso?

- Nada disso.

- Cachorrente?

- Ainda não está certo.

- Cachorrano?

- Não.

- Gente – disse o menino – que nome se dá a quem tem um cachorro?

A mãe, que àquela altura estava rindo, propôs:

- Que tal, dono de cachorro?

- Legal.

- Assim - continuou a mãe – podemos encerrar essa procura insana por uma palavra que defina quem tem um cachorro.

- Gostei. A partir de hoje vou ser um donento de cachorro.

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.