CRÔNICAS E FICÇÃO


NAS COSTAS DO PRETO

Chia

a chibata

nas costas

do preto.

Chibata

chibatando

nas costas

do preto.

Preteja

o preto,

avermelha

o preto.

Chia,

Mais forte

nas costas

do preto.

Festa

no pelourinho.

Obedeça,

chibata,

nas costas

do preto.

Sai de perto

preto torpe.

Baila

a chibata

como rendas

pingentes

de um vestido

violento.

A chibata veste

as costas

do preto.

Marca sua

vida,

sua sina.

 

Bata, chibata,

bata nas costas

do preto.

Ela vive, cresce

da chibata

ela é

a chibata.

 

Basta, diz

o preto,

basta.

Mas, não

basta

o desejo

não

basta

a vontade.

A fuga

também é

chibata.

 

Quilombo

é chibata.

Alforria –

ria a casa

grande –

também

é chibata.

 

Correntes,

argolas,

mudaram.

mas nada

mudou.

São outras

correntes,

outras

argolas.

Não estão

nos pescoços,

nos pés,

nos braços.

No entanto,

pesam do

mesmo

jeito,

da mesma

maneira.

Prendem,

machucam,

sufocam

do mesmo

jeito.

 

Novas

chibatas,

preto,

novos

grilhões.

 

Apesar disso,

os quilombos

crescem,

tomam,

ocupam

espaços,

mais espaços.

A liberdade

não é

áurea

ou Isabel.

A liberdade é

tomada.

Mão fechada,

punho erguido.

A terra,

preto,

não é

branca.

O mundo,

preto,

não é

branco.

 

A liberdade,

o direito,

a vida,

preto,

nada disso

é

branco.

O mundo

não tem

dono,

preto.

 

Sem

chibata

nas costas,

preto,

sem vermelho

no corpo,

mas respeito

no peito,

no preto.

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.