CRÔNICAS E FICÇÃO


A XEPA DA GREVE

Estou perplexo, estupefato, embasbacado. Terminou, oficialmente, uma greve que durou exatos 169 dias. A quantidade pode surpreender, mas é real: mais de cinco meses e meio de greve. Amanhã, 5 de março, a UEL, a UEM e a UNIOESTE retomam suas atividades normais.

Sendo sincero, a greve termina, como disse acima, oficialmente. Isso se dá pelo fato de que muitos setores da Universidade – e estou me referindo a Universidade Estadual de Londrina em específico, pois é com ela que tenho um contato efetivo – estavam funcionando parcialmente, quando não totalmente. Outros tantos, nem mesmo aderiram à greve. É certo que muitos setores são considerados de atividades essenciais para o movimento grevista ou para a viabilidade de pesquisas que não podem ser interrompidas ou, ainda, para o atendimento mínimo exigido por lei, como é o caso dos hospitais universitários. Por esse motivo, tais setores continuaram funcionando.

Muitos cursos aprovaram em seus respectivos colegiados, quando a greve ainda estava em vigor, a volta das aulas para os alunos formandos. Pretendia-se, e assim foi concretizado, atender a uma reivindicação dos alunos último-anistas que, organizados – a exemplo dos grevistas – passaram a pressionar o movimento de professores e funcionários.

O colegiado do curso de Biblioteconomia, atendendo a um questionamento do Conselho Universitário, convocou uma reunião extraordinária para decidir se o curso entendia como viável e pedagogicamente aceitável e correta a retomada das atividades dos formando. Pouca discussão foi necessária para se concluir que não existiam condições apropriadas para se ministrar um ensino com um mínimo de qualidade. O curso rejeitou a proposta do Conselho Universitário.

Ao contrário da Biblioteconomia, muitos cursos analisaram como adequadas as condições oferecidas pela administração da Universidade e, apoiados – melhor seria dizer em conluio – pelos alunos, reiniciaram as aulas para os alunos do último ano.

Um parênteses: apesar do que foi dito até agora, a greve foi vitoriosa. Talvez não se for considerado exclusivamente os aspectos econômicos. 12,8% (o percentual destinados aos professores) pouco significa ante os 50,03% reivindicados. No entanto, não há como negar que a greve, contrariando todas as expectativas iniciais, conseguiu, politicamente, “dobrar” o governador e a ala situacionista da Assembléia Legislativa. Politicamente, repetindo, a greve foi vitoriosa e é assim que deve ser entendida em seu término.

Imaginava-se que o fim da greve implicasse em um retorno imediato, incluindo aulas, pesquisas, atividades administrativas, etc. A surpresa expressa no início desta crônica foi motivada pela afirmação do reitor, em entrevista coletiva no dia seguinte ao anúncio da proposta de acordo:

“Segundo o reitor, a primeira coisa a se fazer é recompor o calendário escolar, em conjunto com a CAE e o CEPE. A intenção é que a normalidade se restabeleça o quanto antes. ‘Vamos sugerir a realização de um mutirão de limpeza, com a participação dos servidores, de alunos, inclusive alunos dos cursinhos. Também pediremos a colaboração de empresas e da Prefeitura Municipal. Eu imagino que a limpeza no Campus demore no máximo duas semanas. Nesse período, já estaremos preparando o calendário e, em seguida, será possível começar as aulas, com exceção dos primeiros anos dos cursos, que dependem ainda da realização do vestibular”

Assim, as atividades de ensino na Universidade apenas serão iniciadas em um prazo aproximado de 15 dias. A limpeza dos espaços da UEL demandará um mês. Até a população (voluntários) está sendo “convidada” a colaborar, visando diminuir esse prazo.

A justificativa – e quero destacá-la em um parágrafo – é a de que é preciso preparar a UEL para a retomada das atividades.

Ora, isso significa dizer que a UEL não estava preparada antes. Se não estava preparada, como foi possível a volta das aulas aos formandos?

Quando os alunos, na entrada de uma reunião do Conselho Universitário, vendiam diplomas a R$ 1,99, estavam apenas ironizando ou traduziam uma realidade que poucos têm coragem de explicitar ou que ainda não conseguiram enxergar?

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.