ARTIGOS E TEXTOS


EDITORIAL – PALAVRA CHAVE N.4

Afinal, existe ou não existe emprego para o bibliotecário? Partindo da premissa (verdadeira até o momento) de que eu estou empregado, posso, num rompante de generalização, afirmar que todos os bibliotecários estão empregados. Essa atitude me parece própria do profissional bibliotecário. A generalização? Não, os argumentos que possam validar a acomodação. Às vezes me pergunto: será que é a acomodação que leva à estagnação e esta à biblioteca sem vida, sem serviços, pura e simplesmente aguardando usuário? Ou será que é o contrário? Será que há saída? Cartas para redação.

Voltando: quem estiver desempregado levanta mão. Desculpe, esqueci que quem não tem salário não pode assinar esta vista. Como explicar alguns braços levantados? Ah! Fizeram assinatura antes da demissão… Chega de nos enganarmos: o bibliotecário e a bibliotecas são importantes. Mais que isso: são indispensáveis. Mas quem, com exceção dos bibliotecários, pensa dessa forma? Quem nos valoriza? Se você continuar sentado, parado, esperando (excluídas grávidas) que tudo venha das Câmaras, Assembléias e Senados da vida, nada, absolutamente nada será alterado. Exemplo: o tão afamado e decantado "Mercado em potencial". O campo de trabalho para o profissional bibliotecário das empresas é uma das principais saídas para amenizar o desemprego, para aumentar os salários, para permitir uma maior valorização da classe, etc., etc. No entanto, o que os bibliotecários têm feito para que se crie a necessidade de seu trabalho nas empresas? O que os bibliotecários têm feito para tornar seu trabalho conhecido, reconhecido e imprescindível? "Pelo cheiro da brilhantina" (como diria Reynaldo de Barros, ex-candidato a governador de São Paulo) O mercado em "potencial" vai continuar dessa forma por muito e muito tempo.

Não podemos nos esquecer que estamos numa época "delfiniana" e, nela, o desemprego grassa e o empregado aluga sua força de trabalho quase de graça. Não, não quis fazer graça, essa é a realidade. Será que o bibliotecário, qual oásis no Nordeste, atravessa essa fase "mordomianicamente"? É claro que não.

Em primeiro lugar, NÓS, BIBLIOTECÁRIOS, SOMOS ASSALARIADOS (por favor revisão, em maiúsculas). Acho melhor repetir: NÓS, BIBLIOTECÁRIOS, SOMOS ASSALARIADOS. E, como tal, recebemos um salário que, por sua vez, é pago pelo setor público ou privado. O setor público não pode pagar muito (ele diz) porque possui um déficit (a dívida interna. Não confundir com a externa que por sinal nós também estamos pagando) que vai sendo "rolado" sempre pra cima da população e principalmente, do funcionário público.

O setor privado, por seu lado, de mãos postas, agradece o INarrochoPC (principalmente quando ele mede apenas 80%) e não abre mão de um centavo de seu lucro. Quando a coisa aperta (leia-se "diminuição dos lucros") basta demitir funcionários, utilizar o velho esquema da "rotatividade de mão-de-obra", contratar estagiário para exercer funções de profissional (mas pagando como estagiário, lógico) e outras "técnicas" mais ou menos sofisticadas.

Um segundo item não pode ser esquecido: a quantidade de profissionais lançados (se preferirem: atirados, jogados) ao mercado de trabalho todos os anos. Você sabe quantas vagas para o curso de biblioteconomia foram oferecidas, em 1981, no Brasil? A bagatela de 2051 vagas. Apareceram 5418 candidatos. A divisão por estados? Dê uma olhada no quadro:

Estado

Candidato

Vagas

Relação

AM

269

40

6,72

BA

275

60

4,58

CE

307

40

7,67

DF

138

30

4,60

ES

55

80

0,68

GO

130

20

6,50

MA

195

30

6,50

MG

247

110

2,24

PA

329

60

5,48

PB

128

30

4,26

PR

196

150

1,30

PE

195

60

3,25

RS

1505

85

17,70

RJ

443

306

1,44

SC

56

60

0,93

SP

950

890

1,06

Brasil

5418

2051

2,64

 

Hoje, início de 1984, aqueles que, na época, conseguiram uma vaga (lembrando que, em alguns Estados, de forma muito fácil) são nossos colegas, nossos companheiros; são profissionais bibliotecários. Agora eu pergunto: e o emprego? O mercado tem condições de absorver, ou melhor, tem condições e quer absorver esse exército (porque, convenhamos, é um batalhão de gente)? Se não, sei não. Acho mais fácil o Maluf se filiar ao PT e, lógico o PT aceitar. Se existe possibilidade de todos se empregar, eu gostaria, juro que gostaria de saber.

A situação do profissional bibliotecário é catastrófica? Não, ainda não, mas corremos sérios perigos de chegar lá. É preciso que nós façamos alguma coisa. Não podemos ficar parados, esperando, aguardando. Se nada fizermos, seremos tombados, classificados e arquivados no mais morto dos arquivos falecidos e, triste imaginar, seremos cultuados com saudosismo. Um leve cheiro de moribundice paira sobre a Biblioteconomia.

É preciso que a gente faça algo para inverter essa situação. A alteração das coisas depende de nós (ou você acredita em destino?). O primeiro passo é encararmos e aceitarmos (não passivamente) a situação como real. A partir disso as coisas podem ser mudadas.

No fundo eu sou um otimista. Se não o fosse, porque estaria aqui, agora, escrevendo para uma classe cuja existência considerasse perdida? Acredito que os bibliotecários esboçam uma reação. Meio bocejando, de cócoras (a gente nunca consegue fugir do Macunaíma), mas um início é sempre um início. Estamos reagindo vagarosamente, porque são poucos os nela envolvidos.

Pra finalizar, a pedidos, um pequeno pensamento: "Bibliotecário: não confunda sublime missão, com submissão".

(Publicado originalmente em Palavra Chave, n. 4, p. 2, maio 1984)

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.