MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO


  • Reflexões sobre a Mediação da Informação, englobando aspectos teóricos e práticos.

PRIMEIRAMENTE...

O Departamento de Ciência da Informação da UNESP/Marília, o curso de Arquivologia e o PET mais precisamente, promoveriam uma mesa de debates sobre a mídia, enfocando sua importância e interferência no mundo de hoje. Infelizmente, o debate, por causa de greve na Universidade, foi cancelado e, talvez, venha a ocorrer em outra data.

 

Convidado a participar da mesa fiquei pensando como poderia abordar o tema. A ideia que surgiu foi começar com um fato muito conhecido de todos: uma pessoa, respondendo à pergunta formulada pela repórter em uma entrevista ao vivo, diz:

 

- Primeiramente, fora Temer.

 

Esse fato passaria despercebido, caso não existissem as redes virtuais e eletrônicas.

 

Os segmentos da programação das redes de televisão, do rádio, dos jornais diários e das revistas semanais, lidam com informações momentâneas e efêmeras.

 

São informações momentâneas, pois veiculadas em um determinado momento. Existem horários previamente estipulados para os noticiários, com início e fim dependentes de outros programas. Isso é válido para as redes de televisão e de rádio.

 

O mesmo se dá com os jornais impressos e as revistas semanais voltadas para o nicho das notícias. Há claro, espaços dedicados para análises mais aprofundadas, mas em geral, os jornais impressos possuem seções, cadernos, sempre com uma quantidade de páginas programada dedicadas para as notícias recentes. Há algum tempo os jornalistas valiam-se de informações que eles mesmos coletavam e veiculavam. Hoje, continuam se valendo dessas informações, mas agregam a elas o que conseguem obter do que está disponível na internet, nas redes.

 

Os rádios também possuem uma programação conhecida do público que sintoniza uma certa rede. As informações, assim, são dependentes de espaços e tempos que delimitam a quantidade, o teor e o tipo de informação que será veiculado. Além disso, deve-se considerar como fator de influência, também as técnicas para se “prender” o ouvinte, leitor ou telespectador e, ainda, as censuras explícitas (determinadas por momentos políticos e interesses dos donos dessas redes) e a autocensura.

 

Por seu lado, a exemplo da TV e do rádio, as revistas também possuem seções e uma quantidade de páginas fixas ou com pouca variação entre uma semana e outra. Nelas, condensam-se uma determinada quantidade de informações ocorridas durante a semana e, sempre, selecionando o que a cúpula da empresa considera mais importante.

 

As informações são efêmeras, pois referem-se a acontecimentos recentes que deixam de ter interesse no dia seguinte. Não há "reprises" de noticiários, não há "vale a pena ver de novo" de noticiários, salvo situações especiais.

 

O caso a que me referi acima, teria passado desapercebido da maioria do público. Quem estava sintonizado, assistindo aquele noticiário específico - e prestando atenção, ao contrário do que faço, ou seja, vejo televisão e leio ao mesmo tempo, mais leio do que vejo TV - soube, curtiu ou repudiou, acompanhou ou posicionou-se contra a manifestação daquele entrevistado. É possível que alguns não tenham entendido direito, pois aquele trecho da fala do entrevistado foi dito de forma rápida. Muitos, é provável, contaram para alguns amigos o que ocorreu; alguns desses contaram para outros, mas o número de pessoas atingidas foi, e isso é certo, muito pequeno.

 

A repercussão só ocorreu - a ponto de transformar a frase em um quase bordão - porque cópias do vídeo foram postadas nas redes sociais, nos espaços virtuais.

 

A hegemonia das mídias começa a se perder, ou a ser dividida com mídias alternativas. Apesar disso, é preciso atentar para o fato de que, mesmo nos espaços virtuais, eletrônicos, a mídia tradicional e comercial ainda é dominante.

 

A democratização da informação ainda é algo a ser buscado, a ser conquistado. O domínio das redes sociais dá-se pela distribuição, ou seja, posso dizer o que quero - em termos -, mas o público a quem atinjo é pequeno, pouco repercute minhas ideias, minhas posições, minhas concepções, minhas verdades, as coisas que advogo, que defendo. Além disso, o público que atinjo é formado por pessoas, em sua maior parte, que partilham do mesmo pensamento, pertencem à mesma "tribo".  Ignácio Ramonet, ex diretor do Le Monde Diplomatique, dizia que, se há espaços, virtuais ou não, há sempre quem o deseja dominar. Os latifúndios se expandiram, se apropriaram das terras eletrônicas, das terras virtuais.

 

Para terminar: finalmente, fora Temer.


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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.