AO PÉ DA ESTANTE... NO JAPÃO
Ao andar por este mundo afora, às vezes me chegam às mãos – e aos olhos – autores quase desconhecidos, nem sempre citados em obras de referência sobre livros policiais. Não se propõe aqui escrever unicamente sobre livros policiais, todavia estes são o humor e a curiosidade do momento.
Gostaria de lembrar uma historieta que consta de um dos livros de Agatha Christie, com a presença da amiga de Poirot, a escritora Ariadne Oliver. Ariadne lamentava haver criado um detetive finlandês Sven Hjerson, pois ela não sabia absolutamente nada sobre a Finlândia e “seus leitores” lhe pediam respostas impossíveis. Julgo Ariadne o alter ego da própria Agatha Christie, que, ao criar seu detetive belga, por certo se viu às voltas com algumas saias justas, ainda que a Inglaterra tenha recebido inúmeros refugiados da Bélgica durante as guerras mundiais.
Tudo isto se coloca porque nos defrontamos com autores que não conhecem profundamente os países de origem de seus detetives, ou têm um olhar eurocêntrico ou colonialista sobre tais lugares. O que não é de modo algum o caso da autora de hoje: Shizuko Natsuki, a mais famosa escritora de policiais do Japão.
Resumindo sua biografia (até agora só encontrada em inglês ou japonês), a escritora nasceu em Tóquio, em 1938, graduou-se em Literatura de Língua Inglesa na Universidade Keio e casou-se em 1963. É a mais prolífica e mais vendida autora de policiais do Japão, com muita influência sobre outros autores.
Escreveu mais de 80 obras, entre livros e contos, dos quais mais de 40 tornaram-se filmes. A revista americana Ellery Queen’s Mistery Magazine publicou muitos de seus contos, porém Ellery Queen merece um fascículo exclusivo.
O único livro traduzido em português intitula-se Assassinato no Monte Fuji, com duas edições diferentes; a mais recente é de 1984, pela Brasiliense. Trata-se de obra interessantíssima, com final inesperado e um belo panorama do Japão no inverno e alguns de seus costumes em festa tradicional.
A universitária Chiyo, uma doce e querida jovem, precisa concluir sua dissertação de mestrado em literatura americana durante as festas de Ano Novo, com revisão de sua amiga americana Jane Prescott. Por isso, contrariando a tradição, a família permite que Jane participe das festividades exclusivamente familiares. Na primeira noite, Chiyo aparece transtornada no salão principal, com as roupas empapadas de sangue. Parte daí o enigma que nos prende até o final.
Não se pode dizer que a autora tenha criado, em algum momento, um detetive principal. Neste nosso precioso "filho único", por exemplo, as polícias de duas localidades unem-se para resolver o crime, mas um livro apenas não permite distinguir como se encaminham os demais.
Que algum editor audacioso corra atrás desses direitos autorais e tenhamos muitos livros em português de Shizuko Natsuki!