PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA


  • A prática profissional e a ética voltadas para a área da Ciência da Informação.

PRÁTICA PROFISSIONAL E ÉTICA: ASSOCIAÇÕES CLASSISTAS FRACAS ALIMENTAM A POBREZA ECONÔMICA DOS PROFISSIONAIS

Em setembro de 1954, a revista A Semana publicou uma rápida entrevista (“Considero-me fazendeiro do ar”) concedida por Carlos Drummond de Andrade, a Geir Campos. Esta entrevista está republicada nas páginas 66 a 71 do volume Carlos Drummond de Andrade, Editora Beco do Azougue, 2011, Rio de Janeiro, organizada por Larissa P. Alves Ribeiro, da qual eu destaco uma pergunta e consequente resposta:

 

“P - Que pensa das associações de escritores e artistas?

R - As de escritores fracassaram, entre nós, por demasiado ambiciosas: desprezando interesses profissionais, queriam converter-se em juízes do bem e do mal. Quanto às de artistas, não posso avaliar” (p. 69).  

 

Enquanto Drummond se referia a essas razões do fracasso associativo entre os escritores, ocorria um percurso aparentemente mais bem sucedido na chamada “classe bibliotecária” de então. Um grupo de bibliotecários(as) em São Paulo  juntava as forças possíveis para obter a instalação da FEBAB em 1959 o que supunha a existência de outras associações similares à APB espalhadas no país. A partir da constituição da FEBAB fez-se o esforço e obteve-se resultado positivo no sentido de conquistar no Congresso Nacional, com posterior sanção do presidente Goulart, em 1962, a Lei do exercício profissional bibliotecário no Brasil. Embora o tempo tenha se encarregado de permitir que um novo país e sociedade viessem a se constituir, com novas morais, novas tecnologias, enfim, com a remodelação contínua de valores comportamentais, parece que essa Lei ainda oferece algum suporte à promoção da profissão bibliotecária. Evidentemente, a Lei, vista sob um olhar mais atento, revela algumas defasagens provocadas pela aceitação e inserção de novas tecnologias na ação profissional. Uma confirmação disso é a solução que foi dada para o caso da Educação a distância e pacificamente aceita pelos bibliotecários brasileiros, na medida em que isso foi feito de uma maneira cujo sentido evidencia a decisão de pisar sobre a Lei. Talvez a decisão de assim reagir venha da percepção de muitos de que já há algum tempo essa Lei vem produzindo alguns percalços aos bibliotecários e às bibliotecárias.

 

O fato é que muitos desses prejuízos nunca foram levados na devida conta, pois também nessa classe profissional parece ter passado a ocorrer o mesmo que Drummond mencionou na entrevista supracitada com relação à atitude de seu grupo profissional, ou seja, os bibliotecários possivelmente também passaram a desprezar seus interesses profissionais, quando se  converteram em reverenciadores da força da lei profissional, como se um texto legal lhes permitisse omitir-se de um de seus deveres, que é o de fomentar e defender o seu capital profissional, dado pela profissão que exercem.

 

Pode-se afirmar que, salvo as exceções possíveis e raras, os escritores não dependem da receita financeira desse trabalho como fonte alimentar. Quase todos têm na produção literária uma segunda fonte, sendo um bom número deles autosustentados, de fato, pelo exercício de outras profissões. Na época da entrevista, Drummond era, por exemplo, servidor público federal, atuante no Ministério da Educação. Ontem e hoje outros escritores foram e são jornalistas, ou donos de fazenda produtiva como Manoel de Barros, ou empresários como o foi Monteiro Lobato, para mencionar alguns.

 

Os bibliotecários, desde os anos da década de 1960 quando a profissão se estabelece legalmente, e hoje, sobretudo, são empregados que têm no exercício dessa profissão seu capital e fonte alimentar. E é nesse sentido que não é possível perceber-se com clareza a dificuldade e até uma certa recusa que os bibliotecários brasileiros têm em defender sua profissão a fim de reforçá-la como esse seu capital. Será pela ideia de que desconhecem o que é um capital; que capital é uma fonte de ganho? Que em uma dimensão formal esse capital é semelhante a qualquer outra propriedade? E ainda mais, que esse capital é completamente orgânico no sentido de que ele está inteiramente implicado no corpo de seu proprietário e não à parte? Enquanto uma fonte de produção (terra, matéria prima ou máquina) ou de capitalização (crédito na conta bancária) estão fora do corpo de seu proprietário o capital ou força trabalho está implantado e se confunde com seu proprietário. Com isto, quero acentuar que qualquer José da Silva é uma pessoa civil, registrada no cartório de registro civil e sendo bibliotecário, é registrado no CRB. A pessoa e bibliotecário que se identificam com o José da Silva, quando forma um capital e o coloca em uma conta bancária faz-se aplicador de um recurso que é exterior ao seu corpo. Quando falece, desaparece a pessoa e o bibliotecário, mas o fundo financeiro aplicado na conta bancária, só incidentalmente identificado pelo mesmo nome, fica à disposição de seus sucessores ou herdeiros.

 

É com esse raciocínio, que pode ser tomado como estranho pelo leitor, que desejo alertar para o fato de que a fonte do capital que o profissional tem implica seu corpo e seu potencial de ganho dado por suas habilidades e competências, e que isso deve ser protegido. Embora possa ser defendido pela aquisição de uma apólice de seguro, quero defender a ideia de que essa proteção é feita com muito mais adequação pelo fortalecimento das associações classistas. Enfraquecer as associações profissionais não é apenas omissão política e desvio moral, mas vai se refletir em perdas econômicas que se estendem no tempo, ao não se refletirem no futuro no crescimento do salário médio profissional e, assim, no valor médio de sua aposentadoria. A seguir contarei uma experiência, destacando que ela produziu alguns resultados de sucesso e depois resultados negativos pela displicência dos bibliotecários catarinenses. Esse desdobramento negativo deu-se a partir do momento em que houve de parte dos bibliotecários a perda do sentido de que seu corpo e sua profissão estão integrados como produtores de sua fonte alimentar e, portanto, constituintes de um capital a ser protegido.

 

Essa experiência teve início no ano de 1995 em Florianópolis e o relato a respeito de sua primeira realização está publicado na Revista ACB, v. 1, n. 1, p. 91-106,  (http://revista.acbsc.org.br/racb/issue/view/22). A própria Revista ACB nasceu por ocasião das decisões tomadas durante o 14. Painel Biblioteconomia em Santa Catarina, cujo tema central foi: Capacitação Profissional para o próximo milênio.  A experiência em si consistia em tronar prática a ideia do planejamento a longo, médio e curto prazos, tomando-se dez anos como longo prazo. Para atender às formulações de curto e médio prazos, foram criadas três comissões de caráter mais permanente e um grupo de trabalho específico, como citado a seguir, tendo o propósito de articular ideias que levassem à definição de metas e ações.  

 

1. Criação de uma Comissão de Educação na ACB, com objetivo de elaborar estratégias de ação em conjunto com as Escolas de Biblioteconomia, para reformulação do currículo dos cursos, bem como proposição de programas de Educação continuada.

2. Estruturação de um grupo de Trabalho, para propor a reformulação do Estatuto da ACB, tendo em vista a nova realidade: ACB atuando no sentido de orientar o processo educacional na área e reforçar as ações dos diferentes campos de atuação da profissão. Este Grupo deverá obedecer ao prazo de 6 meses para apresentação da Proposta do Novo Estatuto.

3. Criação de uma Comissão de Publicações na ACB, que irá propor e implementar uma política de edições. Publicará os resultados gerados pela comissão de Educação, bem como a retomada da edição do Boletim ACB, visando divulgação de conhecimentos científicos/práticos para a comunidade biblioteconômica.

4. Criação de uma Comissão de Bibliotecários do Interior de Santa Catarina.

 

Nas edições subsequentes do Painel (evento anual da ACB) seriam submetidas continuamente à discussão: a atualização de tempo e de metas e a reformatação das Comissões e/ou criação de grupos de trabalho específicos, conforme a necessidade. Com isso, supunha-se não se perder de vista um horizonte mais amplo como perspectiva para a busca de continua ampliação da inserção social, pela interiorização geográfica das ações e pela educação profissional.

 

Em 1996 deu-se o 15. Painel Biblioteconomia em Santa Catarina. Dele, o relatório final está publicado na Revista ACB, v. 2, n. 2, p. 65-76. Por sua leitura, sabe-se que ao final tentou-se implantar uma perspectiva mais orgânica da construção e condução do próprio Painel:

 

“Ficou decidido criar uma Comissão Permanente para organizar os próximos Painéis de Biblioteconomia em Santa Catarina, composta por representantes (titular e suplente) dos órgãos representativos da Classe: ACB (Grupos e Comissões), CRB-14 (Diretoria), BDC/UFSC (só titular), BU/UFSC (só titular), BDC/UDESC (só titular) e BU/UDESC (só titular), devendo ser indicados os nomes dos representantes até o dia 30 de novembro do ano que antecede o evento. A Comissão oficial de cada Painel fica responsável pela publicação dos respectivos anais na Revista da ACB, devendo conseguir recursos financeiros para este fim. A distribuição da Revista fica ao encargo da ACB. O temário do próximo Painel Biblioteconomia em Santa Catarina é o que segue. Foi aprovado: INFORMAÇÃO, SOCIEDADE E ÉTICA, como tema geral, e como subtemas: a) Ética, Direitos Autorais e Fotocópias, b) Biblioteca Escolar e Políticas Governamentais, c) Bibliotecários: Desmotivados? Desmobilizados? Sitiados? d) A força dos paradigmas bibliotecários de estabilidade e fluxo; e, e) Propostas educacionais de Biblioteconomia em Santa Catarina para o próximo decênio. Foi ainda aprovado que o ternário dos próximos Painéis deverá ser aprovado, pela plenária do Painel que o antecede”. (http://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/324/379), p. 75-76.   

 

Embora a ACB continue a realizar o Painel Biblioteconomia em Santa Catarina como evento anual, hoje é impossível através da busca na web localizar seus relatórios. Na perspectiva de antecipar ações sustentadas em informação, ficara decidido que uma boa justificativa para a criação da Revista ACB, fruto do trabalho da Comissão de Publicações criada no 14. Painel, em 1995, seria assegurar a publicação dos relatórios finais do Painel. Desse entendimento resultou a ideia de que na edição anual da revista, ou em uma das edições anuais da revista, se tivesse mais de uma, estaria registrado esse conteúdo, inclusive para se acompanhar as ações planejadas e executadas, para dar consequência ao Painel quanto ao temário eleito para execução no ano seguinte a ser organizado pela Comissão Permanente do evento.

 

Como esses relatórios deixaram de ser publicados sistematicamente, e nas edições da Revista ACB a própria produção comunicada nos Painéis deixou de ser uma matéria importante para inserção, sem maiores explicações aos leitores, fica evidente que o esforço de planejamento a longo prazo ficou fragilizado. A ideia de revisões trimestrais que ficara latente no 14. Painel, não se cumpriu devidamente. Desse modo, somente no décimo primeiro ano do primeiro planejamento decenal, já em 2005, por ocasião do 24.  Painel Biblioteconomia em Santa Catarina, sob o tema: Responsabilidade Social e Ética Para Uma Sociedade Inclusiva Catarinense, a duras penas, fez-se nova discussão, pensando-se em dez anos, 2005 a 2015. Ao Relatório produzido nessa edição do Painel, não se tem acesso através da página da ACB. Evidentemente, as deliberações ali produzidas devem estar em execução virtual, pois como mostrarei adiante uma versão a que tive acesso, vê-se que ações iniciadas e em execução hoje no Estado de Santa Catarina foram lá pensadas, como a expansão da educação, com a implantação de um Curso de Graduação em Arquivologia, a implantação de um segundo Curso de Mestrado em Ciência da Informação e a implantação de um Curso de Doutorado em Ciência da Informação. No entanto, tais resultados embora possam ter partido das discussões realizadas e projetados para esse período, parece ser mais obra do espírito santo, do que uma efetiva e ordenada produção, com o devido acompanhamento e avaliação da chamada classe bibliotecária do Estado de Santa Catarina, através de um Grupo atuante nesse sentido. O Relatório Geral, redigido e lido no final do evento expõe que:

 

 “Os participantes do XXIV PBSC divididos em 06 (seis) Grupos de trabalho, discutiram de maneira global o Tema “Cenário da Biblioteconomia em Santa Catarina (2005-2015) e de forma pontual três blocos com as questões a seguir:

 

BLOCO I

a) Quais as habilidades que serão exigidas dos profissionais em 2015, nos vários segmentos de atuação (ex.: unidades de informação dos setores: público, escolar, universitário e empresarial)?

b) Quais as oportunidades profissionais que estarão sendo ofertadas nos vários segmentos de atuação? E em que regiões do Estado mais se concentrarão essas ofertas?

 

BLOCO II

c) Quais os níveis de ensino / formação deverão estar em oferta para preparação de pessoal?

d) Quais ênfases de conteúdo deverão ser dadas em cada nível de ensino / formação?

e) Quem deverá custear, por nível de ensino / formação, a preparação do pessoal?

 

BLOCO III

f) Que impacto e visibilidade social deverá ter a atuação das entidades que organizam a Biblioteconomia em SC? (ACB; CA; CRB)

g) Quais formas de participação e integração as entidades deverão empregar?

h) Quais os recursos promocionais e os de marketing que as entidades deverão fomentar e utilizar?

 

Considerando o objetivo do Trabalho em equipes de projetar a Biblioteconomia Catarinense para os próximos 10 anos, as propostas discutidas e apresentadas foram agrupadas da seguinte forma:

 

a)           Habilidades a serem exigidas dos profissionais em 2015, nos vários segmentos de atuação:

 

1) Demonstrar:

-              Conhecimento de idiomas;

-              Conhecimento tecnológico/ domínio das tecnologias da informação;

-              Conhecimentos de fontes variadas de informação;

-              Conhecimento nas áreas de Filosofia, Sociologia, Psicologia;

-              Conhecimentos sólidos em Comunicação;

-              Habilidades gerenciais;

-              Habilidades na Gestão de pessoas;

-              Habilidades na Gestão de clientes;

-              Habilidade nos relacionamentos interpessoais (relações humanas);

-              [Habilidade de promover a] Integração [da Biblioteconomia] com outras áreas do conhecimento;

-              [Habilidade na] Análise de informações;

-              [Habilidade na] Normalização da informação;

-              [Habilidade no] Desenvolvimento de projetos;

-              [Habilidade para promover] a Humanização e inclusão social;

-              [Competência] para participar de grupos de trabalho visando o desenvolvimento de atividades em parceria;

-              [Competência] para participar de grupos de discussão, trabalhos, associativos;

-              Capacidade de promover inovações;

-              Discernimento para buscar o que o usuário quer;

-              Possuir uma visão macro da situação sócio-política-econômica do país;

-              Atualização cultural;

 

2) Postar-se como:

-              Profissional pró-ativo;

-              Profissional multidisciplinar;

-              Divulgador da profissão;

 

3) Estar preparado para atuar:

-              [Com] informações em âmbito empresarial;

-              [Na] Área escolar (parte psicológica) – educação (estudar o ser humano);

-              [Na] Área pública (informação voltada para cidade, pontos turísticos);

-              [Na] Área Universitária (voltar-se para educação continuada, realização de Cursos em nível de pós-graduação para alcançar o padrão das Instituições de Ensino Superior);

-              [Na] Formação continuada (especialização, mestrado, doutorado);

-              [Como] Cientista, pesquisador;

-              [Com] Ações culturais;

 

4) Buscar:

-              Aperfeiçoamento constante;

-              Parcerias com o governo;

 

b) Oportunidades profissionais que estarão sendo ofertadas nos vários segmentos de atuação:

   

1) Por setores de trabalho:

 - Educação;

- Empresas;

- Indústria;

- Museus;

- Arquivos;

 

2) Por tipo de atividade:

- Informática;

- Consultorias especializadas por áreas de atuação;

- Organização dos vários tipos de informação;

- Área de pesquisa.

- Área tecnológica;

- [Em] Cargos políticos estratégicos;

- [Em] Curso de Biblioteconomia no interior do Estado.

 

3) Conforme as habilidades profissionais:

-  [Para] Bibliotecário com conhecimentos sólidos em administração;

-  [Para] Especialista em gestão de projetos;

-  [Para bibliotecários com] Domínio de línguas estrangeiras, conhecimento em gestão de pessoas;

 

Regiões do Estado onde mais se concentrarão essas ofertas?

As oportunidades de trabalho serão concentradas na Grande Florianópolis, Região Sul, Região Norte, especialmente Joinville, Jaraguá do Sul e nas demais regiões do Estado.

 

c) Os os níveis de ensino / formação deverão estar em oferta para preparação de pessoal:

 

1) Estrutura:

- Curso de capacitação para quem trabalha em bibliotecas em cidades do interior;

- Cursos de [Especialização em] informação tecnológica para os profissionais já formados (especialmente os não bibliotecários);

- [Cursos de] Atualização permanente para profissionais formados;

- Cursos de acordo com o perfil dos grupos de interesse;

 

2) Modalidade de ensino:

-              Ensino a distância, e também educação contínua a distância;

 

3) Meios:

-              Busca do apoio dos empregadores para atualização profissional;

 

4) Outros:

-              Contato permanente com a ACB  para evitar o isolamento;

-              Incentivo aos graduandos na realização de treinamentos, visando a integração.

 

d) Ênfases no conteúdo a serem dados em cada nível de ensino / formação:

 

1) Em relação à graduação:

a] inclusão das habilitações como uma forma de especialização e de uma melhor adequação para o mercado de trabalho.

b] que após os quatro anos da graduação, os Cursos de Biblioteconomia devem  oferecer uma habilitação, com duração de um ano, para especialização em determinada área de atuação.

c] estudar a melhoria dos currículos e adequá-los às necessidades do mercado de trabalho, considerando como conteúdos:

-              Área de gestão de conhecimento;

-              Disciplinas administrativas para o gerenciamento de pessoas;

-              Recursos Humanos;

-              Marketing;

-              Eventos culturais;

-              Design de bibliotecas;

-              Atualização do material didático nas Universidades;

-              Ênfase de automação de biblioteca;

-              Noções de mercado de trabalho e das novas frentes profissionais;

-              Línguas estrangeiras;

-              Conteúdos multidisciplinares;

-              Ética profissional;

-              Tecnologia da informação;

-              Recursos humanos;

-              Psicologia;

-              Serviços de informação;

-              Gerência e gestão;

-              Indexação;

-              Mediação da informação;

-              Processamento técnico;

-              Disseminação da informação;

-              Noções de captação de recursos e elaboração de projetos;

 

d] oferta de cursos híbridos, em  nível de graduação, sendo dois anos de fundamentação teórica e dois anos de formação direcionados para o mercado de trabalho.

 

e] implantação de um Curso Superior de Arquivologia.

 

2) Nível auxiliar técnico

-              Noções básicas técnicas e organização de bibliotecas;

-              Noções básicas de classificação e informática;

-              Noções de preparação do material;

-              Histórico da biblioteconomia;

-              Organização geral da biblioteca;

-              Processamento técnico (catalogação, classificação e indexação).

 

3) Nível de Especialização

- Necessidades do mercado;

- Ênfase na gestão tecnológica e especializações

 

4) Níveis de Mestrado e Doutorado :

-              Ampliação das linhas de pesquisa;

-              Formação de pesquisadores;

-              Promoção da reflexão;

-              Didática.

 

e) Custeio, por nível de ensino / formação, da preparação do pessoal:

 

1) Técnico

-              Iniciativa privada;

-              Governo (CEFET, SENAI, SENAC);

-              Instituição em que o profissional atua.

 

2) Graduação

-              Instituições públicas;

-              Parcerias com empresas (Projetos, Fundações Universitárias).

 

3) Mestrado e doutorado

-              Instituições públicas

 

4) Especialização

-              Parceria com associações, universidades e empresas;

-              Empresa investindo no funcionário;

-              Iniciativa privada;

 

5) Cursos de curta duração

-              Associações;

-              Sindicato;

-              Empresa.

 

Foram apontadas, também, as parcerias entre setor público e privado para promover o ensino, e também as ONG´s, por meio de programas como Adote um aluno.

 

f) Impacto e visibilidade social que deverão ter a atuação das entidades que organizam a Biblioteconomia em SC (ACB; CA; CRB):

 

1) Impacto:

-              Autovalorização do profissional;

-              A mudança do olhar em relação ao Ser Bibliotecário; maior reconhecimento e inserção do profissional em outras áreas do conhecimento;

-              Mudança de foco na formação acadêmica, valorização dos aspectos sociais e humanistas;

-              Fortalecimento da imagem e do caráter multidisciplinar da atuação do bibliotecário;

-              Valorização do caráter multidisciplinar da atuação profissional;

-              Reconhecimento “popular”.

 

2) Visibilidade:

-              Esclarecimento das funções do CRB e da ACB;

-              Divulgação dos Trabalhos Acadêmicos – Ação conjunta entre os Centros Acadêmicos e Associação de Bibliotecários;

-              Reforço no trabalho realizado pelos Grupos Especializados;

-              Divulgação da profissão e da necessidade de organização da informação nas empresas;

-              Importância da participação no Centro Acadêmico para formação de um ideal da profissão, gerando união e fortalecimento da categoria;

-              Contato das entidades representativas com movimento político, objetivando a visibilidade e o fortalecimento profissional;

-              Recepção dos calouros;

-              Parceria das Associações de Bibliotecários e Conselhos Regionais com representantes dentro das Secretarias de Educação em níveis Estaduais e Municipais;

-              Abertura de Cursos de Biblioteconomia em outras Regiões do estado;

-              Criação de uma Comissão legislativa, visando a redação e acompanhamento dos Projetos de Lei de interesse da Categoria em tramitação nas Câmaras Municipais e Assembléia Legislativas;

-              Participação em Eventos multidisciplinares;

-               Divulgação do que está sendo realizado nas Bibliotecas/Centros de Informação;

-              Oferecimento de Cursos de capacitação;

-              Incentivo a leitura.

 

g) Formas de participação e integração que as entidades deverão empregar:

a) Participação:

-              Participação em eventos locais;

-              Divulgação em escolas de ensino médio a fim de promover o curso e suas áreas de atuação;

-              Maior divulgação das ações desenvolvidas pela ACB e CRB entre os acadêmicos e profissionais, promovendo intercâmbio de experiências;

-              Promoção da valorização da biblioteca na escola e do incentivo à leitura;

 

b) Integração:

-              Abordagem de outros segmentos da sociedade;

-              Atuação política mais efetiva e com maior representatividade perante os poderes públicos;

-              Participação em Comissões legislativas, das Câmaras Municipais e Assembléia Legislativa de Santa Catarina.

-              Divulgação de pesquisas científicas;

-              Promoção de maior integração entre alunos da UFSC e UDESC, por intermédio dos Centros Acadêmicos;

-              Esclarecimento das funções de cada entidade (Associação, Sindicato e Conselho) entre os profissionais e acadêmicos;

 

h) Os recursos promocionais e os de marketing que as entidades deverão fomentar e utilizar:

1) Recursos:

-              Promoção de campanhas abertas ao público em geral, utilizando os canais das mídias impressas e faladas, como jornais de grande circulação, rádios AM e FM´s e canais das TV´s abertas e a cabo;

-               Realização de Eventos em datas comemorativas;

-               [Realização de] Atividades voltadas para o público leigo (oficinas, hora do conto e outras ações);

-              [Realização de] Campanhas de arrecadação de livros;

-              Promoção da imagem do bibliotecário relacionada diretamente a informação em geral, não vinculada ao suporte livro;

-              Realização de sessões de cinema, com a exibição de filmes com temáticas voltadas à profissão;

-              [Obtenção de] Ampla cobertura pela imprensa de eventos da área;

-              Inserção do bibliotecário em eventos científicos de outras áreas;

-              Apresentação de projetos de pesquisa na área para promoção do profissional;

-              Desenvolvimento de projetos específicos para promoção da profissão, por meio das Entidades de Fomento a Pesquisa;

-              [Disposição de] Biblioteca Itinerante [para fomentar] o contato com o livro;

-              Divulgação da profissão em eventos de outras áreas;

-              Participação em eventos científicos.

 

b) Meios de financiamento:

-              Busca de patrocínio na iniciativa privada;

 

c) Formato:

- Utilização de linguagem de fácil acesso (popular);

 

d) Objetivos:

-              Valorização da Biblioteca na escola, formando a consciência do cidadão e incentivando a leitura;

-              Apoio da ACB para promoção de projetos relacionados à área;

-              Fortalecimento do Movimento Associativo;

-              Importância da atuação corrente e ética do profissional”.

 

Este relatório do Painel Biblioteconomia em Santa Catarina, realizado no ano de 2005, serve para mostrar que há uma disposição dos bibliotecários e das bibliotecárias para imaginar como deve ser o futuro que desejam alcançar. Mas, em sentido contrário, esse imaginário está distante de ser a feitura de planejamento, na medida em que a este se associa a ideia de execução; a esta se relaciona a ideia de organização de estratégias, definição de responsabilidades e acompanhamento e avaliação da execução. Esse caminho abre a possibilidade de se poder deliberar sobre graus de sucessos ou necessidades de redefinições quanto ao encaminhamento da execução das ações, sua substituição ou eliminação. O fato de não se estabelecer claramente as responsabilidades por execução, acompanhamento e avaliação de ações, implica em transferir para uma diretoria de entidade pelo menos o acompanhamento e a avaliação? Evidentemente, isso não faz o menor sentido operacional, posto que os executores são parceiros. Parceria requer de todos os membros da Associação, não exatamente dos membros de sua diretoria, que trabalhem para favorecer as articulações suficientes para que as etapas desenhadas como desejáveis aconteçam. Daí a necessidade da formação das Comissões designando os participantes segundo as áreas de interesse, fato que em si já implicará na convergência, através de seus membros, das várias instituições onde as atividades potencialmente ocorrerão.

 

Nesse momento, quero retomar a ideia da implicação das pessoas como tais e como bibliotecários(as). Elas têm nos seus postos de trabalho o lugar da sua capitalização profissional e esta deverá ser potencializada a partir de seu efetivo vínculo à Associação classista, pois para destacar a ideia exposta na frase de Drummond deve ser de interesse do profissional ter ganhos ao atuar em várias frentes possíveis. O que caracteriza essas frentes é dado pelos seus propósitos: educação contínua, reconhecimento profissional por todos os segmentos da sociedade, continuo crescimento da demanda por profissionais e interiorização de vagas de trabalho, contínuo e progressivo crescimento da média salarial do bibliotecário, difusão das atividades do bibliotecário de forma positiva por todos os canais da imprensa de massa, etc., etc. Ora, é isso que os bibliotecários dizem o tempo todo; é isso o que disseram os bibliotecários de Santa Catarina em 1995 e em 2005 e desejam que aconteça até o ano de 2015. Por obra do espírito santo algumas dessas ideias vêm sendo implantadas em Santa Catarina. Eu não sei se está na visão dos bibliotecários do Estado fazerem o mesmo exercício de imaginação, a título de planejamento, em 2014 ou em 2015. De fato, não sei! Mas sei que seu senso de agir para um futuro é de uma fragilidade evidente.

 

Ora, fosse outro o jeito de pensar e agir, supondo que as pessoas portadoras da profissão e ocupantes de encargos bibliotecários querem potencializar seus ganhos em todas as frentes possíveis, haveria de serem realizadas várias ações, como resposta a interesse de classe: 1) Pagamento de taxas de inscrição anual, como investimento para dar suporte aos custos operacionais de espaço físico, equipamentos, taxas e tarifas, serviços de comunicação, imprensa, etc. de sua Associação; 2) Doação de tempo pessoal, como investimento, no exercício das funções estatutárias, na participação em Comissões permanentes e Grupos de trabalho; 3) Pagamento e participação em atividades de atualização profissional: cursos, eventos, publicações, etc.; 4) Assunção de tarefas transitórias, com evidente conotação de investimento para a carreira profissional, com ganhos futuros em termos de salários como em exercício ativo ou mesmo aposentado.

 

Se eu fosse detalhar um pouco o que está no parágrafo acima, começaria dizendo que o tempo que eu doo para uma entidade pode ser medido monetariamente e se posso fazer isso posso comparar com o investimento em um título de capitalização. Se uma hora de trabalho meu vale, por hipótese, R$ 100,00, duas horas semanais que dedico para a Associação, valerá ao final do mês R$ 800,00. Esses R$ 800,00 que dediquei à minha profissão eu o faço como doação que se distribui para todos os colegas. Se 10 colegas fazem isso, estamos doando o equivalente a R$ 8.000,00 mensais para todo o Grupo de profissionais associados. É esse um dos motivos pelos quais se espera que todos façam parte da entidade e do rodízio na atuação da diretoria da Associação, isto é, todos, em algum momento, estão transferindo capital monetariamente quantificável para a Associação, isto é, para todos. Mas isso provavelmente pode ser feito de forma mais agregada, considerando a participação de mais outros que atuam nos grupos e Comissões, etc. Olhando desse ponto de vista, as taxas de anuidade são um valor muito menor que o custo potencial da doação de capital pessoal, economicamente mensurável.

 

Creio que ainda não está claro as razões pelas quais todos(as) não apenas devem pagar as anuidades mas também participar das diretorias, comissões, grupos de trabalho e outras atividades das associações. É que isso tem dois vetores relevantes: a) senso de unidade quanto ao que é interesse profissional; b) convicção de que, por ser isso uma capitalização, vai contribuir, como se espera de qualquer título de capitalização financeira, em ganho material no futuro. Essa potencialidade se consumaria na conquista de certos resultados que também são mensuráveis como fonte de benefício econômico e dar-se-ia pela sua aquisição sem pagamento imediato ao fornecedor, dos quais um exemplo é a obtenção de publicidade pela conquista de mais espaço de boa divulgação da imagem profissional. Além disso, são ganhos apreciáveis: o aumento progressivo da média salarial, que embora não atinja a todos imediata e individualmente vai sendo conquistada ao longo de certo tempo e podendo ser medido; a formação de patrimônio imóvel corporativo possível como espaço para uso de lazer, de estudo, ou para renda e aluguel, podendo a médio prazo servir de fonte para a redução do custo médio das taxas de anuidades o que gera um ganho financeiro indireto para todos, etc., etc.

 

De tudo isso, avançando na análise do possível ganho financeiro que a atuação associativa potencialmente produz, percebe-se que há alguma irracionalidade no afastamento e enfraquecimento das Associações. Se para manter-se associado não satisfaz o argumento deontológico do dever de participar das entidades de classe, mude-se o argumento para a perspectiva utilitária e com isso, tendo-se uma certa paciência na análise do custo-benefício, poder-se-á encontrar as razões plenamente justificadoras de filiar-se, pagar as anuidades e participar em várias frentes. No meu caso, estou filiado e contribuindo com a ABECIN, ANCIB, ACB (que me deixou na condição de inadimplente quanto à anuidade, não sei porque?) e a ANDES. Claramente, não pago anuidade ao Conselho de Biblioteconomia que, por ser um órgão do Estado com vínculo ao Ministério do Trabalho e Emprego, não pode impor a professores de universidades federais em dedicação exclusiva e filiados aos Sindicatos de Docentes, essa cobrança, conforme legislação vigente.


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FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA

Docente nos Cursos: de Graduação em Biblioteconomia; Arquivologia; Mestrado e Doutorado em Ciência da Informação da UFSC; Coordenador do Grupo de Pesquisa: Informação, Tecnologia e Sociedade e do NIPEEB