LEITURAS E LEITORES


BIBLIOTECA DE MUSEU: CARÁTER EDUCATIVO

O ser humano é um ser em construção, inacabado e, portanto, um ser de aprendizagem. Nosso corpo envelhece, mas se estimularmos nosso cérebro, teremos sempre mais e melhor compreensão de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. O ser humano é um ser educável, aprendiz de cultura, enquanto dura o seu ciclo de vida.

 

A aprendizagem vem sem pedir licença, não se anuncia. O estar-no-mundo já nos lança para a aprendizagem, que ora nos damos conta e ora nem nos passa pela reflexão o que aprendemos. Aprendemos e pronto, queiramos ou não, tenhamos consciência ou não. Nas situações formais e informais cotidianas: no convívio social, com a família, na religião, nos lugares de cultura inventados e valorizados pela sociedade, como é o caso dos museus.

 

Cada museu nos diz um pouco de humano do que somos, do que experimentamos, sonhamos e sentimos. O museu estimula nossa sensibilidade, desvela nossa identidade pessoal e coletiva. No texto de abertura da Política Nacional para Museus (2003 – 2006), Gilberto Gil afirma:

 

Há um momento e um território em que o canto da memória se encontra com outras memórias e outros cantos. E se transforma a partir dos encontros feitos. Os museus de pedra e cal e os museus virtuais são baús abertos da memória afetiva da sociedade, da subjetividade coletiva do país, da soma dos museus pessoais.

 

Os museus são extensões de nós mesmos, pois neles nos reconhecemos, estranhamos, nos emocionamos, enfim, contribuem para ampliar nossa compreensão, são extensões do ser humano; ao visitá-los, provocamos nossas lembranças, interagimos com os espaços e com as pessoas; nos informamos, nos emocionamos e ampliamos nossa compreensão do meio em que vivemos.

 

No contexto museal, o uso da biblioteca é uma das possibilidades que o museu oferece para o conhecimento, para a pesquisa, para o lazer, mas, para isso, é necessário que se defina qual será o âmbito da biblioteca no contexto, ou seja: biblioteca? Arquivo? Centro de documentação? Tudo isso junto? Ainda é preciso responder: a que público se destina a biblioteca do museu (BM): público especializado apenas? Adulto? Criança e Adolescente?

 

Para que a biblioteca do museu possa atender ao público infantojuvenil será conveniente que haja, por parte daqueles que atendem na biblioteca, estudo e informação acerca dessa faixa etária, pois isso ajudará no processo de mediação para esse público que está em formação tanto para o museu quanto para a biblioteca e, principalmente, para as artes.

 

Nessa fase, crianças e adolescentes estão ávidos por descobrir, para manusear, conversar sobre o que leem, veem/visitam ou assistem. Caracteriza-se por ser um período profícuo para aprender, enfim, conhecer como o público infantojuvenil interage com livros, pesquisa e outros suportes do museu e de sua biblioteca.

 

O acervo de uma BM, em geral, é especializado, voltado à arte ou ao conteúdo que caracteriza o museu. Nesse aspecto, ao se pensar no público infantojuvenil, caberá à BM disponibilizar em seu acervo obras com linguagem voltada a essa faixa etária. Ainda nesse âmbito, que a localização desse material seja de fácil acesso e de acordo com a estatura ao público a que se destina, assim, o acondicionamento indicado para o material seria nas prateleiras mais baixas das estantes.

 

Embora a BM possa contar com material específico para crianças e adolescentes, isso não impede a possibilidade de acesso orientado a outras obras do acervo, uma vez que a divisão/seleção do acervo é didática, para melhor organizar o material no âmbito na BM, pois, em muitos casos, podem servir de estímulo para que, os mais jovens, busquem mais e mais o acervo.

 

Hoje existem alguns materiais publicados no Brasil de conteúdo voltado a artistas e suas artes, em geral, desde Aleijadinho a Tarsila do Amaral; de Bach a Cartola, entre outros, como é o caso da Coleção Crianças Famosas. Há, ainda, obras que foram ilustradas por artistas mundialmente reconhecidos, como é o caso de Marc Chagall que ilustrou fábulas de La Fontaine.

 

Além disso, existem sítios que permitem baixar aplicativos para jogos, para montar quebra-cabeças com a obra do autor, como é o caso do sítio oficial de Tarsila do Amaral (http://www.tarsiladoamaral.com.br/criancas_cabecas.html).

 

Nesse contexto, computador para o uso na BM será indispensável, inclusive, porque muitas obras que não estejam em exposição, mas fazem parte do acervo do museu, podem ser acessadas virtualmente, com mais detalhes.

 

A biblioteca do museu, além das obras do acervo, pode promover Horas do Conto temáticas destinadas ao público infantojuvenil, cuja temática seja algum artista nacional ou internacional, ou ainda que se refira a obras de seu acervo, ou de alguma exposição em especial que o museu realiza.

 

A biblioteca é uma seção do museu que deve ser pensada e explorada em todas as suas possibilidades, em prol do encontro das novas gerações com a arte, da própria história do museu, da região onde ele se localiza, da sociedade que ele representa. 

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Nota do autor: Antes de tudo, é preciso anunciar que nem museólogo, nem bibliotecário, mas um amante de museus e de bibliotecas, um professor que dará a este texto a perspectiva educacional da BM na formação do público infanto-juvenil.


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ROVILSON JOSÉ DA SILVA

Doutor em Educação/ Mestre em Literatura e Ensino/ Professor do Departamento de Educação da UEL – PR / Vencedor do Prêmio VivaLeitura 2008, com o projeto Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes.