LEITURAS E LEITORES


VIVER COM

Guimarães Rosa reafirma ao longo de sua obra Grande Sertão: Veredas, como se fosse o compasso intermitente do coração humano, que “viver é muito perigoso”.  Eu aproveito a singularidade do trecho rosiano e parafraseio: “conviver é muito perigoso”.

 

E vou além, conviver é muito perigoso, mas eu diria que é essencial. A palavra conviver traz em sua formação o viver com... viver com alguém, viver em comum. A convivência é reveladora de nós mesmos e dos outros com quem partilhamos, pois ela traz à tona aquilo que é bom e aquilo que não é tão bom em nós.

 

Quando convivemos com uma pessoa por poucas horas ou por poucos dias, talvez até possamos mostrar apenas aspectos que julgamos positivos ao nosso respeito. Se preciso for, evitamos opiniões muito contundentes, às vezes, não concordamos, mas também não nos manifestamos.

 

Enfim, por um período muito curto talvez seja possível mostrarmos aos outros apenas nossas qualidades, aquilo que julgamos dignos de nós. Entretanto, na convivência mais demorada: semanas...meses...anos... ainda que não desejemos mostrar nossos defeitos, dificilmente eles passarão despercebidos das pessoas de nosso convívio.

 

E aí é que está o essencial, pois à medida que vamos amadurecendo, percebemos que não somos perfeitos, que temos virtudes, mas também temos defeitos. Por outro lado, se a convivência revela aquilo que nem sempre gostaríamos de mostrar, ela também nos leva a ponderar que defeitos todos têm, inclusive nós, portanto também podemos melhorar.

 

E ainda, nos leva a refletir que é preciso acreditar nas pessoas, investir na convivência, pois nenhuma convivência é perfeita, mas é essencial para que sejamos melhores, para possamos amadurecer psicologicamente, pois é só através de nosso crescimento interior é que teremos condições de enfrentar quaisquer que sejam as dificuldades. 

 

Na convivência ensinamos e também aprendemos: coisas da vida,  do cotidiano, de nós mesmos e dos outros, por exemplo, são inúmeras as dicas de música, compartilhar ideias, como explorar os recursos do computador, de acreditar na vida, concordar e discordar, de como o olhar do outro pode falar conosco e nos fazer refletir.

 

Reafirmo: conviver é muito perigoso, mas é essencial, pois se por um lado a convivência desvela nossos aspectos negativos, ao mesmo tempo, estará revelando aspectos positivos: o que é bom em nós, o que é altruísta e faz com que as pessoas nos queiram por perto, mostram que valemos a pena, ainda que tenhamos defeitos.

 

Conviver não nos deixa entrar naquele discurso tão usual de que o futuro não é promissor, de que as coisas estão piorando... conviver nos leva a acreditar mais ainda no futuro, pois a gente descobre a perseverança, a amizade, o amor, e é isso que leva a pessoa a ter sucesso.

 

Sucesso, na maioria das vezes é sinônimo raso de elementos materiais, entretanto, sucesso é respeitar-se a si próprio, não se vender ou violar-se por coisas que não são importantes, que não dão estrutura para que, quando vierem as dificuldades, tenhamos forças para superá-las.  

 

Conviver é muito perigoso, mas vale a pena correr o risco!


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ROVILSON JOSÉ DA SILVA

Doutor em Educação/ Mestre em Literatura e Ensino/ Professor do Departamento de Educação da UEL – PR / Vencedor do Prêmio VivaLeitura 2008, com o projeto Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes.