OBRAS RARAS


A IMPORTÂNCIA DA BIBLIOGRAFIA DESCRITIVA

Um dos grandes conhecedores de Bibliografia atualmente nos Estados Unidos, principalmente a Descritiva, é Terry Belanger. Segundo o professor, a Bibliografia pode ser Enumerativa (Sistemática) ou Analítica (Crítica). Esta, por sua vez, se subdivide em Histórica, Textual e Descritiva. A Bibliografia Descritiva é a descrição física minuciosa de livros; como o livro foi confeccionado; o tipo de fonte/letra e papel utilizados; de que forma as ilustrações foram incorporadas e como foi encadernado. Bibliografias descritivas fornecem descrições físicas completas dos livros referenciados, permitindo registrar a diferenciação entre edições e as diferentes tiragens dentro de cada edição.

 

 

Quem trabalha com livros raros pode ou não saber a importância do conhecimento de Bibliografia Descritiva para o manuseio de impressos antigos. Afinal, essa subárea da Biblioteconomia, a Biblioteconomia de Livros Raros, tem tamanha abrangência, são tantos os assuntos de interesse, tantas as possibilidades de estudo, que as investigações sobre os aspectos físicos do livro, ou seja, o estudo do livro na qualidade de objeto físico, pode acabar relegado, ainda mais considerando que no Brasil não existem cursos específicos. Tais características foram exaustivamente visitadas por bibliógrafos de renome, como Fredson Bowers, Don F. McKenzie, Sir Walter Greg, Philip Gaskell, Thomas Tanselle e Ronald B. McKerrow.

 

Na parte inicial de An Introduction to Bibliography for Literary Students, de Ronald B. McKerrow, encontramos informação sobre a natureza e o propósito da Bibliografia. Ao citar Walter Greg, McKerrow explica a Bibliografia como uma Ciência de transmissão de documentos literários, por transmissão entendendo não apenas a genealogia e o relacionamento das variações textuais, mas também a evolução de certos textos nos processos de sua produção e reprodução. Assim, a principal razão da Bibliografia, para Greg, é servir a produção e distribuição de textos na sua forma mais acurada. Impossível não pensar na elaboração de textos atualmente, em que manuscritos originais eletrônicos inexistem, muitas vezes, em suas diversas etapas de produção. Ainda bem que os originais do O Quinze, com as correções da autora (e tantos outros), estão a salvo!

 

McKerrow amplia o entendimento do alcance dos estudos como não apenas literários, incluindo todos os documentos, manuscritos e impressos, discos, fitas e filmes, como sendo território do bibliógrafo, embora em seu livro tenha se limitado aos livros impressos.

 

Desde 1928, quando McKerrow terminou seu livro An Introduction to Bibliography– cujo objetivo era demonstrar como a transmissão de textos pode ser afetada pelos processos de impressão -,  pesquisadores têm se debruçado sobre o assunto com o afinco merecido. Nas palavras de Gaskell (professor do citado McKenzie), no prefácio da primeira impressão de 1972 do New Introduction to Bibliography, muito se descobriu desde então, considerando que alguns detalhes não eram de conhecimento no tempo de McKerrow e que sua especialidade se prendia aos séculos XVI e XVII, isto é, não abordava as questões textuais presentes nos séculos XVIII, XIX e XX, tempos da tecnologia das máquinas de impressão. Na segunda impressão, no ano seguinte, Gaskell reconheceria as correções necessárias e agradeceria colaborações recebidas de nomes atuais da Biblioteconomia de Livros Raros dos Estados Unidos, como Terry Belanger (fundador e ex-diretor, até recentemente, da Rare Books School) e G. Thomas Tanselle.

 

O New Introduction não é uma revisão do primeiro livro de McKerrow, mas um novo livro, ampliado por Gaskell.

 

Para Gaskell, bibliógrafos, como outros pesquisadores, devem pensar de forma lógica, ter julgamento crítico e perseverar em tarefas repetitivas – algumas exaustivamente repetitivas. Mais do que tudo, devem compreender a história da produção de livros. O estudo destes na qualidade de objetos materiais e a correta interpretação dos documentos impressos do passado serão baseados, prioritariamente, no conhecimento de como os originais de um autor foram “transcritos” para o formato impresso, distribuídos e comercializados.

 

Conhecer Bibliografia Descritiva pode ser de imensa utilidade para alunos e profissionais de Literatura e História, além daqueles da Biblioteconomia de Livros Raros.

 

Até a próxima!

 

Referências:

 

Belanger, Terry. Descriptive Bibliography. In: Peters, Jean, ed., BookCollecting: a modern guide. New York and London: R. R. Bowker, 1977. p.  97-101.

 

Gaskell, Philip. A new introduction to bibliography. New York and Oxford: Oxford University Press, 1972.

 

McKerrow, Ronald B.; McKitterick, David. An Introduction to Bibliography for Literary Students. Winchester: Saint Paul´s Bibliographies, 1994.


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.