OBRAS RARAS


UMA BANDA DE ROCK E SEU ACERVO RARO

Muitos de nós talvez não consigamos pensar, de imediato, na possível relação entre rock-and-roll e acervo raro, em como o ritmo possa ser, de alguma forma, associado a material de arquivo situado nos chamados setores de livros raros e coleções especiais. Aliás, entre o rock e outros ritmos, pois normalmente, em nosso país, com algumas exceções, localizamos nesses setores material antigo,  mais do que qualquer outro, porém nada muito moderno, menos ainda acervo de uma banda de rock.

 

Mas em outros cantos há. Há coleções que, pela sua importância histórica, ainda que seja da segunda metade do século XX e de uma banda de rock (em princípio considerado acervo “menor” por algumas pessoas), mereceram estar no acervo da University of California, Santa Cruz/Special Collections and Archives e ganhar uma exposição na New York Historical Society. Hoje nos referimos ao acervo do Greatful Dead, banda que dispensa comentários para seus inúmeros fãs em todo o mundo, mas vamos tecer alguns, para situar os que nasceram depois dos anos 70 : -)

 

O Greatful Dead, além de ter um trabalho da melhor qualidade artística, teve um papel social e político de expressão desde o final dos anos de 1960, época do movimento hippie e da Beat Generation. Talvez eu possa dizer que seja a banda mais idolatrada dos Estados Unidos. Apesar de ter sido formada em Palo Alto e, depois, em São Francisco, California, NYC era constante em suas viagens desde o começo de sua carreira. E, outro apesar, era na realidade não uma banda de rock, apenas, mas uma banda fusion, pois havia elementos de jazz, blues, gospel e outros ritmos. A parte do rock, a banda credita a influência aos Beatles. Outra característica desse grupo era a singularidade de cada show, pois não havia ensaios e o improviso imperava. Em época de discussão sobre propriedade intelectual, vale lembrar que a banda recusava o establishment (a ordem ideológica que então reinava) e foi pioneira também nisso, sendo das primeiras a reter direitos autoriais sobre suas músicas e produtos.

 

Até dia 5 de setembro de 2010, quem for à Nova Iorque poderá visitar a exposição The Grateful Dead: Now Playing at the New-York Historical Society. Documentos, instrumentos, gravações de áudio e de vídeo, álbuns, fotografias, prêmios, programas, ingressos de shows, camisetas, contratos, itinerários de apresentações, listas de convidados especiais, correspondência de fãs, raros LP de teste (long-play, bolacha, aquele objeto preto que se colocava na vitrola, hoje “som”, lembram?), marionetes usadas em shows, e outros objetos.

 

Imagino que haja colecionadores particulares com acervos semelhantes aqui no Brasil. Não sei se há em bibliotecas. Adoraria saber dessas coleções escondidas que, certamente, refletem uma época, um aspecto social ou político, uma região, uma ideologia que, reunidas, hoje formam uma coleção. O papel dos colecionadores, como sempre gosto de lembrar, é de importância vital para a nossa memória, mais do que algumas pessoas possam entender.

 

Até a próxima!

 

Fonte consultada:

https://www.nyhistory.org/web/default.php?section=exhibits_collections&page=exhibit_detail&id=5798416

 


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.