LITERATURA INFANTOJUVENIL


UM ESTRANHO MENINO LÚCIDO OU A ESTRANHA LUCIDEZ DE UM MENINO

A coluna desse mês poderia ter diferentes títulos, mas fui vencida pelo cansaço e pela indefinição... então deixei esses aí em cima. Isso aconteceu porque o Thiago (meu aluno de Biblioteconomia da UEL) me emprestou um livro que grudou em mim; igual chiclete.

 

Não consegui me separar dele, estou até com dificuldade de devolvê-lo. É que ele narra a história de Christopher John Francis Boone, um menino autista que tem, segundo ele, 15 anos, três meses e dois dias. Não estranhem, mas os números estão presentes  constantemente na vida dele.

 

Christopher mora com o seu pai que cuida dele com paciência e dedicação. Sua mãe, ele não vê há muitos anos. Seu pai disse que ela morreu no hospital com problemas de coração.

 

Por sugestão de Shioban (sua professora) ele está escrevendo um livro e como é muito ligado aos números primos, numera os capítulos da seguinte forma: 2, 3, 5, 7, 11, 13 até 233. Se tivesse mais capítulos não erraria até 7.507, pois sabe todos de cabeça. E que cabeça! Sabe também todos os paises  do mundo e suas capitais. O próprio personagem define seu cérebro “como um computador com grande memória fotográfica”.

 

E não foi apenas pela sua capacidade numérica (uma das minhas limitações!) que esse personagem/menino me impressionou, mas sim pela forma criativa e lúcida utilizada por ele na resolução dos seus conflitos, perdas e dores.

 

O livro começa exatamente quando Christopher com muita tristeza e indignação encontra Wellington, o cachorro da vizinha morto no jardim com um forcado de jardinagem atravessado no corpo.

 

E por gostar das histórias de Sherlock Holmes – que segundo o garoto, ele não diz em seus livros “Elementar, meu caro Watson. Ele só diz isto nos filmes e na televisão” –, resolve investigar, de sua maneira, quem matou Wellington e por causa disso, passa por experiências muito dolorosas, entre elas ser preso por agredir um policial e acusado de ter matado o cachorro.

 

Christopher tem consciência que não pode sair batendo nas pessoas, mas é difícil manter o controle quando alguém coloca a mão nele. Entende também que na infância os seus pais brigavam bastante, porque é difícil “tomar conta de alguém que tem problemas comportamentais como eu”.

 

Com a tranqüilidade e “peito aberto” ele dedica um capítulo do seu livro, o de número 73, para narrar alguns de seus problemas:

 

 

a) deixar de conversar com as pessoas por um longo tempo;

b) Deixar de comer e de beber qualquer coisa por um longo tempo;

c) não gostar de ser tocado;

d) gritar quando fico zangado ou confuso;

e) não gostar de ficar em lugares muito pequenos com outra pessoa;

f) despedaçar coisas quando estou zangado ou confuso;

g) gemer;

h) não gostar de coisas amarelas ou marrons e me recusar a tocar em coisas amarelas e marrons; 

i) recusar a usar minha escova de dentes se alguém mais tocar nela;

j) não comer se diferentes tipos de comida ficam se tocando;

k) não perceber quando as pessoas ficam zangadas comigo;

l) não sorrir;

m) dizer coisas que outras pessoas pensam que são rudes;

n) fazer coisas estúpidas;

o) socar as pessoas;

p) odiar a França;

q) dirigir o carro da mãe e

r) ficar perturbado quando alguém muda a mobília de lugar.

 

E Christopher com a maior lucidez sabe justificar seus problemas comportamentais sem utilizar a “mentira branca”.

 

O que é isso?

R: Christopher não sabe mentir, então quando ele se encontra em uma situação que não pode revelar toda a verdade, omite informações. Isso aconteceu em um dos dias em que ele andou muito, mas muito mesmo pelo bairro investigando quem matou Wellington e ao chegar a casa deles e o pai pergunta: “Por onde você andou?” Ele responde “Aí pelas ruas”, isso porque o pai o havia proibido de ser detetive e ele não conseguia obedecer. Na verdade, nem todas as ordens ele sabia obedecer e esses dias ficam ruins, sempre acabavam em confusão.

 

Outra mania de Christopher é prever se o dia vai ser bom, muito bom, superbom ou ruim pela quantidade de carros de determinada cor que ele encontra no caminho para a escola. Por exemplo, 4 carros vermelhos – o dia será bom. 3 carros vermelhos o dia será muito bom, 5 carros vermelhos – o dia será superbom, mas... 4 carros amarelos e em seqüência o dia será ruim.

 

Um dia, porém... Não sei se ele encontrou 4 carros amarelos e em seqüência, mas o dia foi ruim. E com ele uma série de dias muito angustiantes. O pai não gostou de saber que ele está escrevendo um livro e nem dos desabafos no livro, toma do menino e o joga no lixo. Christopher pela manhã não encontra mais seu livro no lixo e então começa outra investigação: encontrar o seu livro. Mexe em todos os cômodos da casa, deixando por último o quarto de seu pai. E é nesse quarto que Christopher encontra grandes pistas levando-o a outra investigação: encontrar a sua mãe, pois no guarda-roupa de seu pai estavam escondidas as cartas que sua mãe lhe escreveu durante todos esses anos de ausência.

 

Christopher com ódio do pai pega o cartão bancário dele (do pai) e, como sabia os números da senha “de cabeça”, vai, seguindo o endereço no remetente dos envelopes, à Londres a procura de sua mãe...

 

Paro por aqui leitor DESEJANDO que você DESEJE estar na companhia do Christopher. E informo que o livro onde ele mora, foi publicado pela Editora Record e é um “romance tanto para jovens quanto para adultos”. Tem o enigmático título - O estranho caso do cachorro morto. A autoria é do escritor inglês Mark Haddon, sendo traduzido no Brasil por Luiz Antônio Aguiar e Marisa Reis Sobral.

 

Se você ficou curioso (a) não perca tempo jogando praga em cima de mim por ter interrompido a narrativa. Vá atrás do livro, ele tem cenas inenarráveis.

 

BOA LEITURA!


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.