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O PERCURSO PARA "SER BIBLIOTECÁRIO" E A REPRESENTAÇÃO PROFISSIONAL: REFLEXÕES AO DIA 12 DE MARÇO

O texto deste mês é dedicado aos bibliotecários brasileiros, homenageados na data. Lembrança a cada profissional atuando em todo rincão do Brasil, contribuindo com trabalho para o reconhecimento e promoção da Biblioteconomia.

Felicitações direcionadas aos futuros bibliotecários. Um contingente de estudantes lapidados nas diversas escolas de Biblioteconomia. Congratulações aos docentes, jamais esquecidos no coração do bibliotecário. Na oportunidade da data, manifesto fraterno abraço aos meus professores do curso de Biblioteconomia da PUC de Campinas, SP.

Creio que, no significado da data está a conquista de objetivos profissionais. Significativo ainda entre os objetivos conquistados é o de SER, apaixonadamente, bibliotecário. Conquista valorizada com a superação das dificuldades interpostas pela vida.

Na dedicatória da data aos estudantes de Biblioteconomia, utilizo a figura de uma estudante (aqui identificada como Suely). Por meio da leitura de sua mensagem eletrônica, observa-se que apesar das dificuldades enfrentadas, busca com alegria e idealismo seus objetivos de vida: SER bibliotecária e não estar Bibliotecária.

Somos nós a construirmos nossa própria história de vida. História que marca nossa trajetória profissional e serve de alavanca ao olhamos para trás buscando impulsos para os passos futuro. Exemplo de roteiro particular que pode orientar muitos que buscam na vida bibliotecária um ideal de profissão e de cidadania.

Certamente que, enquanto comunidade profissional, deve-se lutar para o reconhecimento social da profissão. Antes, porém, é preciso sentir orgulho próprio. Orgulho em ser bibliotecário e ter um autoconhecimento.

Suely (a estudante) será uma futura bibliotecária. É uma pessoa que poderia ser qualquer um de nós (discente ou profissional). Seu percurso é um estímulo a qualquer estudante de Biblioteconomia que luta, mesmo financeiramente, para aprimorar sua formação. Que fica indignada com o descaso com que as bibliotecas são tratadas no país. Indignada, mais ainda, com o tratamento dispensado aos profissionais por determinados setores sociais e econômicos. Que responde às ironias que muitas vezes são feitas ao perguntarem "para que fazer" uma Faculdade de Biblioteconomia? - Para colocar livros na estante?

Que mesmo não tendo grandes condições econômicas, é dotada de energia de luta para ser bibliotecário. Que apesar de morar em regiões violentas, tem internamente uma "boa índole" para ser bibliotecário. Supera as dificuldades não com lamúrias, mas com o exercício diário de determinação e dedicação em querer "ser" bibliotecário. Não se vergonha em manifestar amor e orgulho pela profissão ao ter oportunidade para tanto.

Vergonha, em realidade, é não poder dirigir a si mesmo felicitação pela profissão escolhida. Não poder sentir-se recompensado pela escolha profissional feita. É estar bibliotecário pelas circunstâncias financeiras e não por uma auto-realização pessoal.

Ser bibliotecário é como uma sombra. Sombra ninguém nota. É sempre presente e solidário com as necessidades de informação do ser humano. Mesmo quando não há uma necessidade específica lá esta o "ser bibliotecário": organizando, tratando, dispondo etc. Tecendo os meios que facilitem o acesso à informação. Sua responsabilidade social é latente em prol da promoção humana.

Que bela a profissão que pode oferecer esperança. Esperança para muitos que buscam uma qualidade de vida melhor, uma ascensão social. De atuar na melhora das condições de vida das pessoas e da coletividade.

O dia 12 de março é uma data propícia à reflexão pessoal e coletiva. Pessoal sobre os nossos caminhos de conquistas e insucessos profissionais. Coletivamente, revendo a história da profissão e refletindo sobre os caminhos que a comunidade profissional deseja perseguir. As lutas que todos nós devemos travar contra os inimigos naturais da Biblioteconomia: ignorância, miséria, analfabetismo (total e funcional), desemprego, violência, corrupção, fome (de ler e de comida), falta de políticas públicas (educação, saúde e cultura) etc.

Afinal, amar a Biblioteconomia é atuar para o bem-estar do próximo. Ainda que o próximo não seja bibliotecário; não esteja registrado na biblioteca; não saiba "para quê" precisaria de um bibliotecário.

Na oportunidade, estendo parágrafo para abordar as entidades de representação profissional (associações, conselhos, sindicatos etc.). A data é a ocasião de pensá-las e de repensá-las. Sua importância, modelo e diretriz. É responsabilidade de cada bibliotecário o funcionamento da estrutura representativa vigente, e a sua continuidade futura. Nenhuma profissão existe ou sobrevive sem uma entidade que lhe dê tangibilidade social.

Neste sentido, vale recuperar algumas reflexões que circulam em listas eletrônicas sobre contribuir para a morte de uma entidade, adaptado a partir de "Como Matar sua Entidade", publicado na Folha Judiciária - nº 12 ano 5.

  • · Não freqüente a entidade, mas quando for lá procure algo para reclamar.
    · Se comparecer a qualquer atividade, acuse falhas no trabalho de quem está lutando por você.
    · Nunca aceite uma incumbência, lembre-se de que é mais fácil criticar do que realizar.
    · Se a diretoria pedir sua opinião, responda que não tem algo a dizer e depois espalhe como deveriam ser as coisas.
    · Não faça mais do que o absolutamente necessário, porém, quando os diretores estiverem trabalhando de boa vontade e com interesse para que tudo dê certo, confirme que a entidade está dominada por um grupinho.
    · Não leia o e-mail, muito menos os comunicados que lhe fornecem. Afirme que
    nunca tem algo de interessante.
    · Se for convidado para cargos, recuse alegando falta de tempo e depois critique
    com afirmações do tipo: "Essa turma faz o que bem entende…"
    · Quando tiver divergências com a diretoria, procure com intensidade, vingar-se e
    espalhe acusações pesadas sobre a diretoria.
    · Sugira, insista e cobre a realização de cursos, palestras e reuniões. Quando a entidade realizá-los, não se inscreva nem compareça.
    · Se receber um questionário solicitando sugestões, não preencha e se a diretoria não conseguir adivinhar suas idéias e pontos de vista, critique e fale para todos que foi ignorado.
    · Após toda essa colaboração espontânea, quando cessarem as publicações, reuniões, cursos, palestras, eventos e todas as demais atividades, ou seja, quando a entidade morrer, estufe o peito e diga: "EU NÃO DISSE!".

Nos enunciados, por exemplo, os bibliotecários paulistas deveriam se perguntar sobre o que acontece com a Associação Paulista de Bibliotecários - APB. Uma entidade de enorme importância para a história da Biblioteconomia brasileira.

Mas se é preciso cuidar de nossas entidades, importante também que as entidades zelem pelo seu maior patrimônio: a comunidade de profissionais representados. Se a comunidade bibliotecária (cada bibliotecário) necessita ter maior responsabilidade e consciência profissional em relação às suas entidades; as entidades (a gestão formada de bibliotecários) precisam manter constante comunicação e transparência de ações junto ao seu público. Precisam, inclusive inovar-se gerencial e tecnologicamente visando adaptar-se aos novos cenários do mercado-de-trabalho.

Enfim, 12 de março é data oportuna de confraternização e de reflexão do nosso percurso profissional na sociedade. Assim, para você (bibliotecário, estudante, técnico em biblioteconomia ou simpatizante da causa), parabéns!


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.