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ARQUITETANDO A BIBLIOTECA DO SÉCULO XXI

Nosso comentário, deste mês, refere-se ao Workshop "Conceitos e Construções de Bibliotecas", ocorrido em 10/09/2003, e ministrado pelo prof. Wolfram Henning, docente da Hochschule der Medien antiga Faculdade de Biblioteconomia da Fachhochschule de Stuttgart, estado de Baden-Württenberg, Alemanha, onde leciona as disciplinas de "Construção e mobiliário de bibliotecas" e "Políticas e concepção de bibliotecas". O Instituto Goethe, em parceria com a Federação Brasileira de Associação de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituição - FEBAB, foram os promotores.

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O evento enfocou os novos conceitos para edifícios e mobiliários de bibliotecas, a partir das exigências das modernas bibliotecas do século 21. Nas abordagens, levantou-se a seguinte questão "Como são concebidos os espaços físicos que, na atualidade, agrega livro, cd, dvd e Internet?".

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Além da questão central, os conceitos e exemplos expostos durante palestra realizada pelo prof. Wolfram, no dia 09/09, no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo, foram abordados. A palestra está disponível em: http://www.goethe.de/br/sap/bibl/priarch.htm.


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Os participantes, basicamente compostos de Bibliotecários e Arquitetos, propiciaram um intercâmbio interdisciplinar de idéias e de troca de informações. Para desenvolvimento dos trabalhos, dividiram-se os participantes em três grupos de reflexão. Os temas de discussão propostos a cada grupo foram: 1) A biblioteca como local de um aprendizado vitalício e autogerenciado; 2) A biblioteca como local de novas mídias; e 3) A biblioteca do século 21.


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O primeiro tema, propôs reflexão quanto à identificação do público a ser atingido (profissionais ou estudantes etc.); as mídias a serem oferecidas; as atividades a serem realizadas pelos usuários; e os serviços a serem oferecidos pela equipe da biblioteca. Além dessas, outras questões abrangeram a maneira como o espaço do ambiente de informação pode ser ocupado, de modo a que os leitores se sintam motivados; e quais departamentos devem existir e a tipologia do mobiliário que pode ser imaginado para a biblioteca. O segundo tema, em complemento ao primeiro, abrangia como mobiliar a biblioteca, de forma a integrar as mídias eletrônicas e audiovisuais com cd-rom, dvd e Internet. Neste sentido, indagava quanto a ambientação da tipologia de usuários e os equipamentos mobiliários de um setor de multimídias, incluindo-se a determinação das atividades passíveis de serem oferecidas pela equipe da biblioteca. Enquanto, o terceiro tema solicitava a idealização de uma biblioteca central do novo milênio para uma grande cidade brasileira. Propôs uma reflexão enfatizando a filosofia a ser desenvolvida para a biblioteca; as tendências sociais, técnicas e artísticas envolvidas. Além dessas questões, estimulou-se discussões relacionadas a aparência da edificação.

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Os resultados apresentados pelos grupos temáticos devem ser disponibilizados no site da FEBAB <http://www.febab.org.br> ou do próprio Instituto. O brilho do encontro foi o delineamento das características da biblioteca do novo milênio, que toma para si responsabilidades pedagógicas. Uma biblioteca preocupada com pessoas que não conseguem criar um elo com o mundo escrito e o mundo digital. Para a mudança de culturas, envolvidas nesse processo, são necessários tradutores e a biblioteca pode cumprir esse papel. Afinal, se a biblioteca é base da sociedade de informação, há que adotar métodos não convencionais, capazes de inovarem na difusão do conhecimento na era da informação.


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Outro aspecto da biblioteca do novo milênio, segundo prof. Wolfram é o seu funcionamento sem interrupção. Aberta 24 horas, possibilitando acesso a todos aqueles que disponham de horários distintos. Para tal, oferece uma área de funcionamento, em horário especial, chamada Open End Area. A biblioteca também é plataforma para o virtual, possibilitando acesso remoto aos seus serviços: pesquisa online do acervo, serviços de reserva e entrega de material etc. A biblioteca do século 21 precisa ser flexível, e não simples depósito de materiais velhos ou empilhados, sem uso. Por analogia, bibliotecas são como ramos de flores, assim cada ramo pode ter um arranjo possível.


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Mas qual é a tecnologia de informação - TI, que dará funcionalidade às atividades da biblioteca do século 21? Certamente, todas as tecnologias sob as quais a informação possa ser operada, tratada, armazenada e recuperada. Uma característica será a integração e/ou convivência dos suportes de informação, impressos e digitais.

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Uma característica tecnológica, do novo ambiente de informação bibliográfica, é a adoção de redes sem fio. Uma tendência que aumenta a mobilidade dos usuários em utilizar seus próprios equipamentos para se conectarem à rede da biblioteca, em padrão WiFi ou 802.11b <http://br.wired.com/wired/cultura/0,1153,10471,00.html>. O padrão encontra-se em acelerada evolução técnica, assim se espera maior barateamento de implantação da tecnologia, em futuro próximo.

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Mas, independente da tecnologia adotada, a biblioteca deve resgatar um de seus aspectos mais importantes: ser um ambiente lúdico e de aprendizagem contínua. Ademais, construir bibliotecas, arquitetar ambientes de informações, integrar tecnologias não podem ser realizadas separadamente da imaginação e da criatividade. Nesse sentido, e apesar da realidade das bibliotecas brasileiras, ainda é possível dar "asas a imaginação" e usar da criatividade para planejar ambientes informacionais atrativos, inspiradores e reconfortantes. Conforme citado "a biblioteca é um local que deve estar em permanente transformação, de forma que os visitantes encontrem o inesperado, que encontrem ao mesmo tempo o que estiverem procurando e, também, aquilo que não procuraram, mas que possivelmente necessitem para a solução de uma questão complexa".

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Sonhar é muito bom. Sonhar com um senso de realidade pode ser muito útil para repensarmos o fazer e/ou refazer bibliotecário, renovando nossa práxis profissional. De outro lado, a inovação não é necessariamente decorrência do uso de um novo recurso, mas a maneira diferenciada de como utilizamos recursos existentes. Assim, a biblioteca pode ser inovada não apenas por uma nova maneira de utilizar ou aplicar os recursos existentes, mas fundamentalmente pela maneira de repensá-la.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.