OBRAS RARAS


MEMÓRIA DO MUNDO

A Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) criou, em 1992, o programa Memória do Mundo, cujos objetivos principais são preservar e democratizar o acesso a tesouros mundiais - tarefas que se complementam. Mais detalhadamente, o Memória do Mundo busca conscientizar governantes para a importância de seus acervos históricos, principalmente se são significativos também para a história de outros países; busca despertar interesse em nações, instituições e pessoas para suas heranças documentárias; busca encorajar a preservação de coleções históricas (que pode ser um pedaço de pedra com inscrições) e, como dito acima, democratizar o acesso a essas coleções. O Programa é coordenado por Abdelaziz Abid, autor do artigo em http://www.fh-potsdam.de/~IFLA/INSPEL/98-1abia.pdf, a partir do qual essa tradução livre, parcial, adaptada e não autorizada é baseada.

Coleções ativas, ou seja, que continuam a crescer, não são contempladas, mas apenas encorajadas em sua preservação (esse critério de integridade da coleção é muito importante). O encorajamento, aliás, é mais importante do que se pode supor a princípio, uma vez que o programa aumenta a atenção dos governantes dos países envolvidos para suas coleções, e isso constitui uma grande ajuda a bibliotecários e conservadores que tanto lutam na hora da distribuição de verba; uma vez conscientizadas as instâncias superiores, é sempre mais fácil conversar. Deve-se também notar que a participação no Programa não envolve ajuda financeira ou compromisso legal de forma alguma por parte da Unesco.

Apesar das limitações que tais programas forçosamente apresentam, a abrangência do Memória do Mundo é vasta, incluindo múltiplos parceiros (de estudantes a acadêmicos, o público em geral e até fabricantes de produtos). Apontado pelo diretor geral da Unesco, um comitê internacional administra o programa e recomenda ações, tais como arrecadação e alocação de verba e a decisão sobre o registro de determinado documento ou coleção no Programa. O trabalho em cooperação com organizações não governamentais (como a IFLA, por exemplo) favorece sua atuação e sucesso.

Os critérios de seleção, seja a importância do documento ou coleção de nível mundial, nacional ou regional, devem basicamente levar em consideração a influência da coleção/documento para a história mundial, superando as fronteiras culturais nacionais; ou devem refletir significativamente um período de mudança na história mundial; ou devem conter importante informação sobre um lugar que tenha mudado o curso da história; ou devem ser sobre uma pessoa ou nação que tenha contribuído para a cultura do mundo; ou mesmo devem conter informação única e muito importante sobre um assunto, estilo, ou, ainda, ser de valor espiritual, cultural ou social que transcenda uma cultura nacional. (Onde encaixar a Nona Sinfonia de Beethoven?) Rigor na seleção é mais do que necessário. O Programa, todavia, não tem critérios fechados.

Vários documentos e coleções já fazem parte do Programa Memória do Mundo (http://portal.unesco.org/ci/ev.php?URL_ID=1538&URL_DO=DO_TOPIC&URL_
SECTION=201
). O nosso Brasil se encontra muito bem representado (até agora, mas pode crescer) pelo Profoto da Fundação Biblioteca Nacional, um projeto exemplar de identificação, catalogação, indexação, reprodução fotográfica e conservação de uma das coleções mais importantes da instituição: as fotografias de D. Pedro II, pertencentes à Coleção Tereza Cristina Maria, sua esposa, doada à BN em 1891.

Vale a pena a visita ao Memory of the World Programme.

So long!


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VALERIA GAUZ

Tradutora, mestra e doutora em Ciência da Informação pelo IBICT, bibliotecária de livros raros desde 1982, é pesquisadora em Comunicação Científica e Patrimônio Bibliográfico, principalmente. Ocupou diversos cargos técnicos e administrativos durante 14 anos na Fundação Biblioteca Nacional, trabalhou na John Carter Brown Library, Brown University (EUA), de 1998 a 2005 e no Museu da República até 12 de março de 2019.