EMPRÉSTIMO NO ESCURO
Confesso que fiquei um pouco cético quando soube do serviço oferecido pela Biblioteca Pública de Maringá.
Na época, a biblioteca era dirigida pela Fernanda Mecking, bibliotecária experiente que, entre outras coisas, havia trabalhado nas bibliotecas públicas da cidade de São Paulo.
Em uma visita que fiz àquela biblioteca - participei de um evento promovido pela Secretaria de Cultura voltado para os funcionários das bibliotecas de Maringá, a central e as ramais - fiquei conhecendo os vários serviços oferecidos e, deles, um me chamou a atenção.
Como toda biblioteca pública (ou quase todas) aquelas também permitiam empréstimo domiciliar e a população da cidade utilizava muito esse serviço.
Os bibliotecários que atuam no Serviço de Referência, atendendo e trabalhando diretamente com os usuários, sabem que, muitas vezes, eles, os usuários, têm dificuldade em escolher o livro que desejam retirar. Eles sabem vagamente o que querem e fazem referência a livros que leram e gostaram.
- Você tem algo parecido, algo semelhante?
É conhecida uma piada que circula no ambiente das bibliotecas que relata uma usuária que leu toda a coleção de livros da Ágata Christie. Bibliotecários que a atendiam apostaram que ela daria um salto qualitativo e procuraria livros mais, digamos, intelectualizados. Quando ela retornou e devolveu o último livro dos escritos pela autora, o bibliotecário perguntou que tipo de livro ela gostaria e a resposta foi:
- Quero um livro parecido. Qual você indica?
Como responder perguntas como: Não sei o que levar; Você pode me ajudar a escolher? Qual livro você me indica? Tem algum livro com final feliz? Eu olho nas estantes e não consigo me decidir; Você pode decidir por mim?
A ideia que surgiu foi criar um serviço de empréstimo “no escuro”.
Os bibliotecários e bibliotecárias escolhem alguns livros que ficarão disponíveis para os usuários, como se fosse uma estante de Sugestões. Todos que trabalham em bibliotecas sabem que a estante de Sugestões funciona muito bem. Livros pouco retirados, quando alocados na estante dos livros sugeridos passam a ser emprestados.
Qual a diferença em relação ao empréstimo “no escuro”? Neste caso, os livros são embrulhados como se fossem para presente. O usuário vai até a biblioteca, não sabe o que emprestar e recorre aos livros que estão escondidos nos pacotes. Ele escolhe um e o leva. Assim, lerá um livro indicado pela biblioteca e só saberá qual é quando chegar em casa.
A biblioteca deve, claro, criar um procedimento, uma forma de política para a escolha dos livros que farão parte do serviço: livros bem indicados pela crítica, mas que atendam aos interesses do perfil do usuário; livros bem recomendados por outros usuários ou pelos funcionários da biblioteca etc. Os organizadores do serviço criarão essa política e a vão aperfeiçoando com o desenvolvimento do serviço.
A avaliação é que o serviço foi muito bem aceito. Não sei se ainda está sendo oferecido, mas pode servir como alternativa e complemento ao serviço de empréstimo tradicional existente nas bibliotecas públicas.