1O. ENCONTRO PARANAENSE DE LITERATURA INFANTO-JUVENIL
Glória Kirinus uma das organizadoras do 1o Encontro
Paranaense de Literatura infanto-juvenil promovido pela Fundação Sidónio Muralha
em Curitiba, me convidou para compor uma mesa redonda nesse evento, e ela foi
intitulada - Como a Academia pode pensar o ensino de literatura? Apesar de não
trabalhar com o ensino de literatura na graduação, aceitei o desafio, pois
trabalho cotidianamente na educação continuada de professores, bibliotecários e
demais profissionais da leitura. Além disso, tenho um especial interesse por
essa área, por paixão e amor. Na academia não é muito "normal" falar em
paixão e amor, mas, amor é isso aí, a gente não explica, sente. Por isso, eu me
apoderei da música - "Dueto" do Chico Buarque, que é pura poesia e numa
brincadeira bradei meu amor pela literatura
infanto-juvenil.
Consta nos astros.
Nos signos.
Nos búzios.
Eu li num anúncio.
Eu vi no espelho.
Tá lá no evangelho.
Garantem os orixás.
Serás o meu amor.
Serás a minha paz.
É triste saber que a academia ainda é muito resistente à poesia. E nem é preciso de metodologia científica para perceber que na academia há muita reflexão e pouca paixão. Mesmo quando,
Consta nos autos.
Nas bulas.
Nos dogmas.
Eu fiz uma tese.
Eu li num tratado.
Está computado.
Nos dados
oficiais.
Serás o meu amor.
Serás a minha
paz.
Paz? Isso é, se for possível ter paz com a
literatura: porque a "boa literatura" sempre é instigante e inquietante. E o
mediador de leitura também tem que ser instigante e mais do que isso afetuoso
(cuidado! a academia, acredita que ser afetuoso também não é uma atitude
científica).
Mas vou em frente e me lembro de Teixeira Coelho
(1999) quando defende "[...] o universo do homem contemporâneo (e sobretudo dos
jovens) é, em ampla medida, afetual - quer esse afetual se manifeste e seja
exercido de forma simbólica, quer concretamente."
Portanto, o mediador de leitura seja ele um familiar, um professor, um bibliotecário, um escritor, um editor, um crítico literário, um redator, um livreiro ou um amigo, precisa saber que "[...] não bastam, pois, competência e profissionalismo ao mediador de leitura; a afetividade faz parte da sua relação consciente com o leitor, menos no sentido de gestos afetuosos e mais no sentido de disponibilidade e compreensão no que se faz [...]"(BARROS, 1995).
Mas se a ciência provar o contrário.
E se o
calendário nos contrariar.
Mas se o destino insistir.
Em nos separar.
Danem-se.
Os astros.
Os autos.
Os signos.
Os dogmas.
Os
búzios.
As bulas.
Anúncios.
Tratados.
Ciganas.
Projetos.
Profetas.
Sinopses.
Espelhos.
Conselhos.
Se dane
o evangelho.
E todos os orixás.
Serás o meu amor.
Serás a minha
paz.
Você leitor deve estar perguntando: o que tem a
música "Dueto" do Chico Buarque com a literatura infanto-juvenil? Nada. Ela foi
uma forma (ou fórmula) que encontrei para falar para o mediador que apesar do
frio em Curitiba, do cansaço de ficar manhã - tarde - noite em um evento durante
uma semana, o encontro com os textos literários nos faz acreditar na
possibilidade de que "a vivência da leitura propicie o desenvolvimento do
pensamento organizado, capaz de levar o jovem [e as demais faixas etárias] a uma
postura consciente, reflexiva e crítica frente à realidade social em que vive e
atua" (CATTANI; AGUIAR, 1982). Portanto vale a pena!
Consta na pauta.
No Karma.
Na carne.
Passou na novela.
Está no seguro.
Picharam no muro.
Mandei fazer
um cartaz.
Serás o meu amor.
Serás a minha
paz.
Mas é necessário refletir sobre a prática do
mediador para que se de "[...] uma postura professoral lendo 'para' e/ou 'pelo'
educando, ele passar a ler 'com', certamente ocorrerá o intercâmbio das
leituras, favorecendo a ambos, trazendo novos elementos para um e outro"
(MARTINS, 1983).
Consta nos mapas.
Nos lábios.
Nos
lápis.
Consta nos Óvnis.
No Pravda.
Na vodca.
Tamanha responsabilidade deve ser interpretada pelos mediadores como um desafio constante, pois o papel que eles desempenham na motivação de leitura pode interferir com maior ou menor profundidade na formação dos leitores de uma coletividade. Espero ainda, que os mediadores facultem aos leitores uma pluralidade de experiências, para que eles percebam a leitura não apenas como aprendizagem escolar, mas como elemento de lazer e satisfação.
Referências
BARROS, Maria Helena T.C. de.
Leitura do adolescente: uma interpretação pelas bibliotecas públicas do
Estado de São Paulo - pesquisa trienal. Marília: UNESP, 1995.
CATTANI, Maria Izabel; AGUIAR, Vera Teixeira de. Leitura de 1 grau: a proposta dos currículos. In: ZILBERMAN, Regina. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.
MARTINS, Maria Helena. O Que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1983.
TEIXEIRA COELHO, José. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. 2.ed. São Paulo: Fapesp/Iluminuras, 1999.