LITERATURA INFANTOJUVENIL


GOSTAR OU NÃO GOSTAR DE LER LIVROS INFANTOJUVENIL: EIS A QUESTÃO!

Na Coluna anterior me comprometi a falar de literatura para o leitor um tanto complexo que volta e meia são chamados de “aborrecentes”, rótulo que a psicóloga Meire Barra Rosa Reis rejeita: eles, em alguns períodos, são “aborrecidos”, mas compreendê-los é fundamental.

Falei que se eu fosse sugerir para o jovem leitor uma obra, eu indicaria Capitães da areia. Esse é o livro que eu mais gosto do Jorge Amado, por dois motivos: tem um mediador que lê para meninos marginalizados, esquecidos, abandonados a sua própria sorte, mas principalmente pela humanidade de cada personagem que a obra apresenta e que vivem nas ruas de Salvador em condições sociais precárias.

Da Coluna anterior eu deixei para trás as sugestões de duas bibliotecárias. Primeiro as dicas da Priscila de Jesus Apolinário Ribeiro que atua na Biblioteca Infantil. Ela contou que na adolescência chorou muito com os dois livros Tonico (José Rezende Filho) e Tonico e Carniça (José Rezende Filho e Assis Brasil) da série Vagalume. Lembro-me já atuando como bibliotecária no Sesc, para melhor fazer a mediação li muitos títulos dessa série que fez enorme sucesso entre os adolescentes nas décadas de 1970 e 1980. Como estes dois livros eu não havia lido saí procurando... (sei que eles estão na web, mas... literatura gosto de ler no formato impresso). Achei Tonico no Sebo Capricho e o Tonico e Carniça peguei emprestado com a Waneska (bibliotecária do Senai-Londrina). Li essas tristes histórias reais em poucas horas, me lembrei do Capitães da areia e senti calafrios e vergonha, pois sei que ainda impera a discriminação social e de classe.

As sugestões da bibliotecária Leda Maria Araújo que gostaria de evidenciar são: Mano descobre o amor e Mano descobre a diferença. Ambos são dos autores Heloisa Prieto e Gilberto Dimenstein e fazem parte da Série Cidadão Aprendiz. Do Gilberto Dimenstein me lembro com muita admiração do livro O cidadão de papel que em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti, mas a série Mano não está na minha memória, portanto, foi para minha listagem de leituras futuras. Pedi para essa bibliotecária me dizer o que a fez indicar estas obras:

A coleção é incrível, retratam valores fundamentais para o dia a dia: o amor, respeito às diferenças [...]. Vivemos em uma sociedade egoísta, capitalista, onde a gente não enxerga o outro. Os livros provocam reflexões a respeito da justiça, amizade, solidariedade, igualdade que são importantes para aqueles que querem contribuir com uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais humana.

Quis saber como está o interesse dos leitores pela literatura, então conversei com Denise Gentil proprietária da Loja Ciranda, música, literatura e brinquedos:

O que eu sinto na livraria, o que atraem os jovens e adolescentes são as séries, que por alguma razão são detonadas entre eles. Agora, por exemplo, é A casa na árvore. Já tivemos O diário de um Banana. Mas o que vejo que desperta a atenção são livros baseados em autores atuais, de novela ou do cinema. Acho que é por aí que a gente consegue pegar os jovens. Harry Potter com certeza (foi e permanece um fenômeno), Jardim Secreto, Pollyanna Moça, Anne (seriado na Netflix). O terror também tem uma procura grande... Pouquíssimos procuram pelos clássicos. Um livro clássico como o Mogli que era para adolescentes e adultos, depois que a Disney transformou em filme infantil o adolescente não se convence em ler essa obra. Os jovens gostam de tudo que for baseado no universo do cinema, da televisão. Eu continuo achando que é o cinema e a Tv que são os mediadores, na verdade nem a escola, nem outro tipo de mídia, nem os pais influenciam tanto quanto eles.

Temos muito bons autores para o público infantojuvenil que não são procurados porque estão nas mídias. (futuramente farei uma Coluna especialmente para tratar desse assunto).

Preciso lembrar que essa Coluna, apesar de exigir pesquisas constantes, não utiliza procedimentos rígidos então tenho a liberdade de construi-la também de maneira um tanto anárquica. Pensei por vários dias: conversei com duas bibliotecárias e uma livreira e o leitor infantojuvenil?

Assim, por causa da pandemia apelei para os que estão mais acessíveis e que conheço desde criança. São eles: Heloisa de Oliveira Pinho (15 anos), Paula Luvizutti Coiado Martinez (16 anos) e Tiago Bortolin de Abreu Pestana (13 anos).

Fiz as seguintes perguntas por whatsApp: 

Quando você era criança os adultos sugeriam leitura. Como é hoje? 

Heloisa: Quem indica são os amigos.

Paula: Hoje as recomendações dos adultos continuam, mas junto com os professores, os amigos indicam. Eu também encontro por conta própria.

Tiago: Professores.

Que tipo de livro você costuma ler ou livro não te chama mais atenção e prefere se divertir com outras coisas?

Heloisa: A diversão que eu mais gosto é sair com os amigos no shopping.

Paula: Costumo ler romances policiais e livros de fantasia.

Tiago: Prefiro outras coisas. O livro não me chama mais tanta atenção. Gosto de vídeos, filmes e desenhos postados nos sites, no Netfix, no YouTube...

Quais autores você mais gosta?

Heloisa: Eu não costumo ver o nome dos autores dos livros.

Paula: Agatha Christie, Douglas Adams e Lemony Snicket.

Tiago: O que mais gosto é Victor Hugo, autor dos Os miseráveis.

O que está lendo agora?

Heloisa: Agora estou lendo Quarto de despejo. Foi a escola que pediu.

Paula: Quincas Borba (Machado de Assis) e Emma (Jane Austen).

Tiago: Estou lendo Colecionador de Lágrimas para escola.

Comecei essa Coluna indicando o livro Capitães da areia e gostaria de finalizar recomendando o sensacional livro A invenção de Hugo Cabret de Brian Selznick (já falei dele em outra Coluna). 

Avalio que foi muito bom conversar, mesmo que a distância, com esses três adolescentes. Só agora me dei conta de perguntar qual a faixa etária eles queriam ser enquadrados, enfim concluo que eu preciso me atualizar, em especial, além do suporte impresso. 


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.