SALA DE AULA: DIA A DIA NA UNIVERSIDADE


  • A coluna propõe reflexões sobre o dia a dia na universidade e na sala de aula, desafios do início na carreira docente etc. A inspiração advém de conversas com colegas e algumas leituras, sobretudo, das obras "Pedagogia da Autonomia" e "Pedagogia do Oprimido" de Paulo Freire e "Conversas com um jovem professor" de Leandro Karnal.

INTRODUÇÃO À COLUNA “SALA DE AULA: DIA A DIA NA UNIVERSIDADE”

Esta coluna objetiva apresentar reflexões sobre o dia a dia na universidade e na sala de aula envolvendo os desafios do início da carreira docente e daqueles que se apresentam ao longo do exercício profissional. Sendo assim, este primeiro texto da Coluna realiza uma introdução ao debate que permanecerá em constante discussão, isto é, discorrer sobre os aspectos que envolvem a sala de aula e o dia a dia na universidade (pública ou privada). Convido-os(as) a acompanharem esta Coluna e participar com comentários e sugestões através do meu contato, aqui disponibilizado. Desejo a todo(as) uma ótima leitura!

Inicio a discussão pontuando que os cursos de graduação – bacharelado – não têm a pretensão de formar professores. Os que objetivam isto são os cursos de licenciatura. Durante os cursos de bacharelado, as disciplinas, em sua maioria, não enfocam os aspectos didáticos, pedagógicos e formadores que envolvem o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, muitos cursos de pós-graduação (stricto sensu) que formam mestres e doutores também não ofertam disciplinas nesse caminho. Ainda que no mestrado e doutorado alguns discentes realizem o estágio docente, este não é suficiente para preparar o estudante por diversos motivos (carga horária, forma de supervisão e acompanhamento, não obrigatoriedade etc.).

Muitos professores do ensino superior são egressos desses cursos e não tiveram preparo para lidar com inúmeros desafios que ocorrem na universidade (intra e extraclasse). Sendo assim, esses professores, no início de sua carreira docente – e ao longo de suas jornadas –, buscam (ou ao menos deveriam buscar) capacitação em cursos de didática, intencionalidade pedagógica, metodologias ativas, recursos virtuais de aprendizagem etc. Em conjunto a isso, os professores buscam se espelhar também em seus mestres, isto é, com aqueles professores que fizeram parte do seu processo formativo e que, em sua visão, foram bons exemplos e marcaram sua vida acadêmica positivamente.

As estratégias didáticas, a postura e o comportamento adotados, por sua vez, serão bem-sucedidos ou não. As turmas nunca reagem de uma mesma maneira frente às mesmas estratégias, algumas, inclusive, sequer reagem. Portanto, desenvolver diferentes habilidades de ensino é fundamental para a sobrevivência na universidade. Digo “sobrevivência” não pelo fato de existir a possibilidade de ser demitido ou afastado da sala de aula, mas por reconhecer que ser professor, sobretudo de instituições públicas, envolve elementos que interferem e dificultam o fazer diário, requerendo deste, resistência para sobreviver física, mental e emocionalmente à profissão.

Vive-se numa conjuntura em que, além da desvalorização do professor (condições de trabalho, remuneração, sobrecarga de trabalho etc.) lida-se no ensino superior com estudantes advindos de diferentes gerações. Existem aqueles que: respeitam e não respeitam os professores; anotam e não anotam o conteúdo ministrado; fotografam os slides ao invés de copiar a matéria; não abandonam seus dispositivos móveis por um segundo; aprendem de distintas maneiras; aprendem somente de uma maneira; necessitam de uma verdade universal ou apenas um conceito para determinado objeto/fenômeno estudado; dominam mais de um idioma; apresentam dificuldades na leitura e compreensão de textos (em suas múltiplas manifestações); trabalham meio período ou o dia inteiro, entre outros. Um dos desafios a serem enfrentados pelos professores é usar/apostar, a cada ano ou semestre, em uma ou duas estratégias de ensino para uma turma com tantas diferenças.

Retomando a discussão a respeito do início da vida docente, pontuo neste momento os processos seletivos e concursos públicos para professor. Em ambos, seja para substituto ou efetivo, os processos possuem uma etapa eliminatória denominada “prova didática”. Esta prova, consiste em apresentar uma aula didática com base em um tema (também chamado de “ponto”) sorteado, normalmente, com 24 ou 48 horas de antecedência, a partir da listagem de pontos disponibilizados previamente em edital e abertura/instalação do processo. A prova didática apresenta-se também como um “tiro no escuro”. Nunca se sabe o que a banca espera. Existem aquelas bancas que esperam que o candidato simule uma aula como se houvesse estudantes em sala, numa espécie de teatro mesmo (nestes casos o(a) candidato(a) fica ainda mais inseguro, visto que realizará perguntas e/ou interferências sem retorno, devido à ausência de estudantes). Por outro lado, existem bancas que vislumbram esta prática como algo “forçado” e sem necessidade.

Além da aula em si (algo já bastante complexo), deve-se apresentar também o “plano de aula” ou “plano da disciplina” contendo diversos elementos que, até que alguém oriente e instrua em sua elaboração, configura-se como algo obscuro e abstrato. Houve, afinal, algum momento na graduação ou na pós-graduação em que se ensinou a elaborar um plano de aula? Obviamente, que em uma rápida pesquisa em um buscador da internet é possível recuperar inúmeros exemplos de planos de aula, mas talvez, não se compreenda de fato o objetivo deste instrumento didático-pedagógico e o quanto ele repercute nas ações deflagradas dentro e fora de sala.

Frente a essas duas situações, elaboração do plano e preparo da prova didática, o(a) candidato(a) depara-se com questões muitas vezes sem resposta, como: Qual é a melhor estratégia? Simular ou não uma aula com estudantes em sala? Preparar uma aula que evidencie o domínio conceitual do ponto ou que enfoque nas aplicações práticas?

Acredito que assim como no concurso/processo seletivo quanto no dia a dia em sala de aula, serão a experiência e o feedback que darão subsídios para se auto avaliar neste processo infinito: a formação docente. Até que alguém diga: está legal ou não está, está bom ou não está, está didático ou não está, está adequado ou não está; não é possível saber se está no caminho certo. Portanto, ressalto o valor tanto do parecer/feedback da banca avaliadora dos concursos e processos seletivos (para os aprovados e não aprovados) quanto da avaliação dos estudantes ao longo e ao término de uma disciplina, por exemplo. É somente com essas avaliações que se pode (re)pensar em estratégias didático-pedagógicas de ensino e aprendizagem.

Esta coluna pretende, deste modo, compartilhar algumas experiências, angústias e anseios sobre esses fatos aqui comentados brevemente e, também, de outros que circundam o dia a dia na universidade, seja dentro ou fora da sala de aula. Não se almeja aqui, portanto, findar o debate sobre as possibilidades de ação para “sobrevivência” na universidade.


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JOÃO ARLINDO DOS SANTOS NETO

Professor Colaborador do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) desde 2013. Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista e Bacharel em Biblioteconomia pela UEL.