ONLINE/OFFLINE


NOVOS ATRIBUTOS NA RDA E AS MUDANÇAS DO RDA TOOLKIT

Durante o Fórum Midwinter Meeting RDA Forum, ocorrido em 21 de janeiro de 2017, houve os informes apresentados por: Kathy Glennan, representante da ALA para o RDA Steering Committee (RSC), que comentou os resultados da reunião do RSC em novembro de 2016; e por James Hennelly, Diretor do RDA Toolkit, que deu detalhes sobre o Projeto 3R que objetiva melhorar a experiência dos catalogadores com o Toolkit.

Dos comentários destes profissionais desenvolve-se o relato sobre as mudanças previstas para a RDA e sua plataforma de consulta. Mal os catalogadores brasileiros assimilam os novos princípios da catalogação, acumula-se novos conhecimentos para pensar e aplicar a catalogação descritiva.

 

Em relação à reunião do RSC, o destaque foi o interesse do Comitê em implementar o IFLA Library Reference Model (LRM), que aguarda aprovação final pelo IFLA Committee on Standards. A versão preliminar do LRM, para revisão mundial, foi divulgada em 2016, sob o título FRBR Library Reference Model.

O modelo foi tema desta coluna, em junho de 2016, sob o título FRBR-LRM: mais um requisito para remodelar o catalogador. Ele consolida e atualiza os três modelos existentes: Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR), Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade (FRAD) e Requisitos Funcionais para Dados de Autoridade de Assunto (FRSAD). Semelhante aos seus predecessores, o LRM é um modelo conceitual baseado na modelagem entidade/relacionamento. Dá ênfase às tarefas de usuários, ao invés das operações de biblioteca. Ao contrário dos modelos predecessores, é totalmente baseada e compatível com o CIDOC Conceptual Reference Model (CRM) e a versão orientada a objetos do FRBR (FRBRoo).

Segundo Glennan, a implementação do LRM pela RDA implica mudanças em algumas das entidades existentes, incluindo Obra, Expressão, Manifestação e Person (Pessoa). A RDA também precisará acomodar as novas entidades: Agent, Collective agent, Nomen, Place, e Time-span.

De especial destaque é a mudança no âmbito da LRM Person, que deve ser pessoa (ser humano real). Esta mudança não encontrou boa recepção entre os catalogadores norte-americanos, mas é inerente ao CRM. Como resultado da alteração, a RDA terá que encontrar novas formas de capturar os dados referentes às entidades fictícias, lendárias e não-humanas creditadas nas indicações de responsabilidade para que os usuários possam encontrar esses recursos descritos.

Da mesma forma, Place e Time-span excluem entidades fictícias. A entidade Place abrange lugares contemporâneos e históricos, localizados na Terra ou em outros lugares fora do planeta – extraterrestres. O modelo reconhece que os lugares podem ter limites mutáveis ao longo do tempo. A entidade Time-span refere-se ao período de tempo com uma medida de duração mensurável. Pode ser mais ou menos preciso, variando na indicação de uma era geológica ou de uma magnitude em nanosegundos.

Na categoria das entidades mais incomuns no LRM situa-se o Nomen, que se define como a associação entre uma entidade RDA e uma sequência de caracteres que se refere a ela. O modelo observa que diferentes entidades podem ter o mesmo Nomen (por exemplo, várias pessoas com o nome Vinicius de Moraes), e que a mesma entidade pode ter Nomens diferentes (por exemplo: Malba Tahan, Júlio Cézar de Mello e Souza, etc.).

O LRM indica 37 atributos, que são representativos, porém não exaustivos. Assim, os catalogadores podem registrar muitos atributos como uma sequência literal ou como uma URI.

Neste sentido, dois atributos são significativos no modelo:

  1. O atributo representativo da Expressão é uma característica considerada essencial para a caracterização da Obra, como a linguagem.
  2. A indicação de atributos da Manifestação auxilia os usuários a entender a representação de um recurso. Normalmente é transcrito da Manifestação e inclui uma sequência de dados como a Indicação de Responsabilidade.

Outra questão comentada por Glennan refere-se às mudanças decorrentes do projeto RDA Toolkit Restructure and Redesign (3R). Mudanças consideradas significativas e que exigem congelar o conteúdo existente no RDA Toolkit por um ano. Assim, no período de abril de 2017 a abril de 2018 o RSC não considerará nenhuma proposta de modificação das instruções pertinentes à Norma.

Além de incorporar as entidades do LRM, o Projeto 3R também permitirá que o RSC trate de problemas antigos, como a remoção de instruções contidas no Toolkit que informam: "This instruction has been deleted as a revision to RDA” (Esta instrução foi excluída como uma revisão do RDA). O Projeto irá oportunizar mudanças adicionais, incluindo generalizar as instruções sempre que possível; reestruturação do layout; esclarecer as diretrizes da "transcrição" e "registro"; desenvolver uma nova abordagem para os indicadores de relacionamentos; e ao desenvolvimento de diretrizes para registrar tanto a paginação como a folha.

E, finalmente, o RSC antecipa a intenção de implementar o percurso de 4 processos ao longo da RDA, o que representa quatro maneiras diferentes de capturar os dados: descrição não estruturada; descrição estruturada (como pontos de acesso autorizados); identificadores; e URIs.

Neste contexto e, embora, o RSC não vá considerar as propostas de mudança, durante o congelamento do RDA Toolkit, recomenda-se aos catalogadores documentarem os problemas e soluções potenciais para submissão após abril de 2018. Além disso, o Comitê observa que haverá oportunidades para a manifestação da comunidade profissional em relação ao Projeto 3R. O RSC irá recorrer a seus grupos de trabalho e outros especialistas para obter assistência e buscar a contribuição das comunidades RDA sobre as possíveis mudanças.

Para mais informações sobre as mudanças citadas é recomendado à comunidade bibliotecária consultar o site do RSC e o seu recente relatório (de 21/12/2016) para a CC:DA.

Especificamente, sobre o Projeto 3R, Hennelly comentou que o objetivo de tornar o RDA Toolkit mais orientado a atender às necessidades de seus usuários e melhorar a exibição das instruções RDA, há intenção de incluir recursos adicionais, como a indicação de políticas. Para isso, a ALA Publishing está trabalhando com o RSC nas mudanças de conteúdo; com os desenvolvedores da RDA para otimizar a estrutura de dados; e com os 6 membros do 3R User Group para identificar melhorias no Toolkit.

Durante o período de verão (summer), nos Estados Unidos, o RSC empreendeu esforços para sincronizar melhor o conteúdo do RDA Registry com a RDA Toolkit. Com isso, as definições atualizadas passaram a ser feitas em um só lugar, minimizando a necessidade de realizar alterações especificamente para o texto Toolkit. Além disso, planeja-se implementar um novo software de tradução para apoiar a crescente adoção da RDA por comunidades que não falam inglês.

Sobre a nova versão do Toolkit a ser lançada em abril de 2018, deve incluir:

  1. design responsivo, que pode ser usado em tablets;
  2. melhor acessibilidade, atendendo ao padrão AA do W3C; e
  3. conteúdo mais modular, o que permitirá uma maior flexibilidade nas telas, muitas das quais serão orientadas pelo usuário.

Com a reestruturação planejada, espera-se que o número atual de instruções seja substituído por um novo sistema de numeração que ainda não foi desenvolvido. No entanto, a numeração atual adotada permanecerá como opções de pesquisa, de modo que os catalogadores possam encontrar as instruções existentes em seus novos locais dentro do ambiente.

Em relação a plataforma RDA Toolkit, Hennelly destaca que as inscrições a mesma pode ser um método óbvio para avaliar a crescente internacionalização da Norma. Baseado em dados de 2015, o kit de ferramentas tinha 2.840 assinantes que compraram acesso para 8,866 usuários, localizados em 64 países nos seis continentes. Apesar de parecer uma boa cobertura global, requer exame mais aprofundado.

A RDA foi desenvolvida colaborativamente por um grupo de representantes da Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos - o mesmo grupo responsável pelas Regras de Catalogação Anglo-Americanas (AACR). Se além desses países a internacionalização for definida pelo uso da ferramenta por outras 60 nações, estas incluem 744 assinantes e 2.509 usuários. Esse grupo internacional representa cerca de 26% dos assinantes e 28% dos usuários do RDA Toolkit. Apesar da participação modesta, é significativa ao excluir as nações originárias, e indica que há espaço suficiente para crescimento da RDA entre a comunidade mundial de catalogadores.


   776 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
CONTROLE DE AUTORIDADE E O GÊNERO NA RDA
Agosto/2017

Ítem Anterior

author image
VIVA RDA – AACR2 VIROU ZUMBI
Junho/2017



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.